Mittwoch, 3. Dezember 2014

Solidao que Mata


Há algum tempo, algo vem me perturbando a mente e me tirando a tranquilidade, e acredito que não só a mim, como também aos muitos brasileiros que moram no exterior. Isso a que me refiro, são as constantes reportagens e notícias de brasileiros ou brasileiras que vêm tirando as suas próprias vidas por motivos de depressão, angústia ou outro mal que são causados aparentemente pela solidão. Em poucos meses, são muitos os casos noticiados.

Nós que moramos muitos anos "fora de casa", sabemos o quanto é difícil a fase de adaptação e de aceitação por ambas as partes (tanto por parte do estrangeiro em aceitar novas normas, regras e mudanças para inserir-se à nova vida, e em uma outra cultura; como também por serem (ou não!) "aceitos" nesse novo lar pelos habitantes locais.
Os recém-chegados, na sua maioria, acreditam que por estarem vivendo em um país "novo", serão bem aceitos e  recebidos de braços abertos , que todas as portas estarão sempre abertas, e isso não é verdade, essa não é realidade. Claro, pode haver as exceções, mas isso não é um fato corriqueiro e não acontece todos os dias.

Quando sentimos na pele que nem tudo é como as mil maravilhas, e que nem tudo é fácil, que teremos muito a "desbravar", e que nem sempre seremos bem vistos ou aceitos no país que escolhemos para viver, e que teremos dificuldades para encontrar trabalho, e que nem sempre teremos à nossa disposição alguém para nos comunicarmos, pessoas que talvez venham amenizar um pouco essa solidão, então é aí que a realidade aparecerá nua e crua. A dificuldade já começa daí, em não falar o idioma, e isso afetará principalmente as pessoas que se negam em viver a vida do país, e se fecham em "guetos" ou "grupos" que só falam o idioma pátrio, ou seja, não têm interesse em se desenvolver no aprendizado da língua do país onde mora.
Mas essa dificuldade, pode piorar, se as pessoas moram em lugares distantes e afastados, não terão facilidade de comunicação nem de locomoção, para ter mais contato com pessoas que possam ajudar nessa adaptação. Pois quanto mais afastado e interiorano for o lugar em que esse imigrante for morar, mais as pessoas serão reclusas e "desconfiadas".

Lembro que há alguns anos, meu marido e eu conhecemos uma moça jovem muito simpática, que vinha de Salvador, mas que já havia vivido na Suíça e lá havia tido uma experiência conjugal que não tinha dado certo. Ela namorava um senhor também muito simpático, e aproximadamente uns quinze anos mais velho. Eles nos convidaram para visitá-los em sua cidadezinha, e não demoramos muito tempo para encontrar a casa deles, pois o lugar era muito pequeno e afastado do "centro", e além do mais só havia umas cinco casas naquela área, e eram bem afastadas uma das outras.
Após a conversa que se sucedeu entre nós, não demorei muito para concluir que aquela moça não demoraria muito naquele lugar. Ela tinha muitos planos, era muito ativa, gostava de balada e falava muito empolgada das aventuras e dos locais que havia frequentado com seus amigos, todos brasileiros, no tempo em que morou na Suíça . Ela não tinha carteira de habilitação, e o lugar onde moravam, só havia pastos e vacas a perder de vistas. Para ir até o mercado mais próximo, necessitava ir de bicicleta. Ela passava os dias sozinha, em uma grande casa, enquanto seu namorado passava o dia fora de casa trabalhando. Ela fazia muitos planos, e na sua cabeça de moça jovem, tinha devaneios e ilusões, mas todos iam de encontro com a sua realidade.

Nós perdemos o contato uma com a outra, mas espero profundamente que tenha realizado os seus sonhos de ser feliz.

Isso é fato. Para se tomar uma decisão dessas, é necessário sabedoria e maturidade, caso contrário, pode ser um jogo bastante perigoso, e a situação fugir ao controle.

Não quero dizer com isso, que seja ruim morar em um lugar pequeno e afastado da "civilização".
Mas morar em cidade grande também não quer dizer que seja muito diferente, pois as pessoas no seu dia-a-dia têm suas ocupações, e mesmo os nossos conterrâneos, que já estão habituados à vida do país, nem sempre terão aquela disponibilidade que acreditamos que teriam.
Eu mesma, logo no início da minha vida no estrangeiro, também já passei por uma experiência, pois uma conhecida, ao ser indagada por mim, porque não me visitava, ela me disse: _Você tem que me convidar. Não posso chegar assim, batendo na sua porta como se estivéssemos no Brasil!"
Hoje eu sei que infelizmente essa é a realidade de quem mora fora, não é como estar "em casa". Não adianta, isso é uma ilusão, ou uma triste realidade, como queiram classificar.

Eu desejo sim, que em algum lugar, alguém não dê importância às burocracias e formalidades criados pelo homem, e não se importe se um amigo chegar batendo à sua porta de repente, e não faça essa pessoa sentir-se inconveniente, pois talvez ela só esteja querendo um ouvido ou um ombro amigo, para não enlouquecer, para continuar a viver. E que ao retornar para a sua casa, não tenha mais um vazio no peito, e não cometa um ato de loucura em um momento de desespero, perdido na solidão entre quatro paredes.

Mas eu sigo me perguntando, e talvez este seja um questionamento não apenas meu, mas de muitos de nós: O que pode levar essas pessoas a viverem esse momento de desespero?
O que leva essas pessoas a tirarem suas próprias vidas? Seria fraqueza, no sentido de não terem suporte para lutarem e superarem  essas dificuldades de comunicação, essa vida de solidão? Fraqueza, não por ser um covarde, mas fraco por não ter mais esperanças de que dias melhores podem vir?
Será que a distância de casa doeu tanto?
Ou será talvez, que também como muitos de nós, não avaliou e não "pesou" as consequências dessa mudança de país?
Sei que são respostas difíceis de serem obtidas, mas infelizmente há pessoas que não são fortes o suficiente para se darem uma chance de lutar, de vencer, de correr atrás. Saberem que moram em um país que não é igual ao seu de origem, mas buscarem forças e reagirem de alguma forma. Ou simplesmente, "jogar a toalha" e voltar "pra casa". Isso me entristece profundamente.

Mas por outro lado, eu tive a oportunidade de conhecer mulheres, lindas e fortes, que passaram por momentos de solidão, e situações denigrentes e desesperadoras. Mas foram fortes o suficiente para se manterem firmes e darem à volta por cima, como guerreiras que não desistem da luta! Um exemplo a ser seguido!
Por uma questão de ética eu não vou revelar os seus nomes, mas à elas, toda a minha admiração e carinho!

Preciso apenas deixar claro, que tenho um sentimento vivo dentro de mim, por essas pessoas que infelizmente tiraram suas vidas de uma maneira tão triste, trágica e dolorosa, para nós, que ficamos e lemos essas matérias nos jornais e nas redes sociais, é lamentável.
Essas notícias vêm sempre acompanhadas de muita especulação, pois a verdadeira razão, nem sempre vem à tona, deixando assim, margens para muitos questionamentos.

Sei que é grande e incessante, a dor e a tristeza dos familiares e amigos dessas pessoas, que partem dessa forma triste, longe dos seus queridos. À eles deixo aqui os meus sentimentos, solidariedade e o meu respeito.

Conheci uma moça,  que veio morar na Alemanha, e por se sentir sozinha e na monotonia, achou que engravidar seria uma saída, pois teria um filho para cuidar e ocuparia assim o seu tempo. Mas ela não investiu em aprender a língua antes disso, não se empenhou em vivenciar o país. Então, ela não se adaptou ao lugar e não aprendeu o idioma mesmo morando aqui já havia alguns anos. O que acontece é que esse tipo de comportamento acaba criando algum tipo de rejeição da pessoa ao país. Pois ela irá "culpa-lo" por seu "fracasso", pela sua falta de "sucesso" na vida. É preciso ter bastante cuidado com esse aspecto da adaptação, pois ela será a chave que irá abrir, ou conforme seja, fechar as portas do mundo aqui fora.

Para você, que tem a pretensão de dar um passo rumo ao desconhecido, que é ir morar no exterior, é importante levar em questão fatos como a solidão, e a distância de casa. Pois nem todos os dias serão de festa.

Pouco se pensa no lado duro e difícil que é a conquista de um espaço novo, com tantos obstáculos a serem superados, como a aceitação; ou como a comunicação, que nem sempre flui de maneira fácil; o contato com pessoas novas, que nem sempre estarão abertas a diálogos espontâneos, como estamos acostumados com as pessoas em nossos países de origem. Não pensamos no frio constante, que incomoda, dói, deprime e mata, de depressão e de tristeza, quem não for forte o suficiente para saber se defrontar com situações como essas.

Sei apenas, que quando mudamos para outro país, não sabemos ainda o que de fato nos aguarda. Não sabemos de fato, se iremos conseguir superar a saudade, a tristeza, a angústia por estarmos longe dos parentes queridos, dos amigos verdadeiros. Enfim, nós não pensamos em nada disso antes de imigrarmos. Acredito, que pensamos apenas em coisas boas, positivas, muitas conquistas pessoais e profissionais, muita alegria e muita festa. Mas o mundo real nos aguarda cheio de surpresas...




Sonntag, 23. November 2014

Uma jarra de saudades

 


Era hora do café da manhã , um sábado lindo de sol, e como sempre, não apressamos o dia, deixamos que corresse tranquilamente. Para nós, é dia de descanso do corpo, de relaxar. Mesmo que uma vez ou outra precise ir trabalhar.

A mesa estava posta, e nós três já estávamos sentados, quando me dei conta de que faltava o suco. Lembrei que havia trazido uns maracujás da minha última viagem ao Brasil, e antes que estragassem, o que seria terrível, pensei em fazer suco deles. Meu marido disse que alguns já estavam "mofados"! Meio desconfiada, eu peguei um maracujá pra conferir, mas ele estava apenas murcho, que é uma característica natural da fruta.

Cortei um maracujá ao meio e levei-o ao nariz, e aquele cheiro exalado me preencheu, entrou de vagar pelo meu peito, e se alojou no meu coração! Aquele cheiro de maracujá me encheu os olhos de lágrimas...! Em uma fração de segundos, enquanto apreciava aquele cheiro tão exclusivo e inconfundível, minha alma fazia uma viagem de volta ao Brasil. Em tão pouco tempo, eu vi as ruas por onde sempre passei no caminho ao trabalho, vi o centro do Recife com as suas belas pontes; vi a praia de Boa Viagem ensolarada como a deixei...vi as árvores frutíferas do quintal da casa da minha mãe...

Sim, era saudade...mas era uma saudade deliciosa, que não doía nem maltratava. Era uma saudade, que me reportava aos momentos de prazer e de alegria da minha vida que deixei lá no Brasil. Era uma saudade que me fazia lembrar das delícias da minha origem. Pra me lembrar, que mesmo longe, é possível lembrar-se de casa sem sofrer! 

Meu marido e a Corina também apreciaram aquele cheiro, e todos lembraram de momentos alegres de nossas últimas férias juntos.

Por fim, fiz uma deliciosa jarra de suco com alguns maracujás...ahhh que delícia!
E aquele foi o café da manhã mais alegre que já tive em dez anos de vida na Alemanha!

Donnerstag, 7. August 2014

Começar de novo...e sempre!

Ao mudar para a casa do Uwe, na mesma cidadezinha onde morava a Maria Luiza, a brasileira que nos havia apresentado, os meus sentimentos estavam ainda muito confusos. Não em relação à nós dois, mas em relação ao meu comportamento em sí. Não tinha certeza se tinha que ser daquela forma.
Sentimentos confusos,  porque sempre prezei pelo bem estar das pessoas, e mesmo que a minha convivência com o Albert não tenha sido das melhores, mesmo sabendo que ele não havia sido correto comigo, eu não queria o mal dele. Trazia comigo um grande complexo de culpa, por ter falado apenas meia verdade pra ele sobre o meu "novo endereço". E esses sentimentos me perturbariam por algum tempo. Mas por outro lado, estava feliz por um novo recomeço em minha vida. Cheia de expectativas para a vida que levaria junto com o Uwe.

Saí de uma cidade grande e mudei para morar em uma cidade provinciana, interiorana mesmo, como diríamos no bom e claro português. Onde os habitantes prezam ainda pela moral e bons costumes da família. Fazendo questão de viverem em círculos fechados, não se permitindo tão aberta e facilmente a convivência com recém-chegados, se comportando e olhando meio desconfiados para as novas caras que por ali se chegam. Principalmente se são estrangeiros.
Algumas pessoas são tão fechadas, e porque não dizer "primitivas", que até hoje mal trocam um bom dia. E comigo a recepção não poderia ser diferente.
Confesso que foi tudo muito rápido e tive que assimilar muita coisa de uma só vez. Foi algo do tipo "tudo ao mesmo tempo agora"!  A paz que Uwe me proporcionava; a incerteza do futuro; a preocupação com minha mãe (sim, eu precisava explicar o "samba do crioulo doido" no qual me envolví); queria aprender a falar o mais depressa possível; queria trabalhar; queria conhecer a vida no país (tudo -ou quase tudo funciona diferente de como é no Brasil!) queria ter filhos...!
Mas sobretudo, queria e teria que me adaptar à minha nova realidade. E não seria muito fácil.

Como nos conhecemos e resolvemos morar juntos em muito pouco tempo, o Uwe já havia programado as suas férias de final de ano com um grande amigo, e os dois já haviam reservado hotel e comprado passagens para passarem as festas de final de ano na República Dominicana, e claro, eu não estava incluída em seus planos. Assim, o Uwe me propôs que eu ficasse em seu apartamento até que ele voltasse de viagem, e, sem outra alternativa, eu aceitei a sua proposta.
Para mim, foi uma situação, que até hoje eu penso, ter sido um dos maiores votos de confiança que ele me deu. Nos conhecíamos de pouco tempo, e mesmo assim, ele me confiou o seu lar. Eu costumo dizer, (e eu sou muito sincera nessa minha opinião) que tanto para mim, como para ele foi muito arriscado, pois do mesmo jeito que ele poderia ser uma pessoa de má índole e estar fingindo, eu também poderia ser uma pessoa de caráter duvidoso e estar jogando com ele. Mas como eu digo, quando somos adultos, e sabemos o que queremos, sempre irá valer a pena acreditar em um novo recomeço. Sempre valerá a pena correr o risco.

Duas semanas antes da viagem do Uwe, nós tivemos que resolver muitas questões burocráticas, devido ao nosso casamento; à minha mudança de residência, enfim, papéis pra lá, documentos pra cá...e pagamentos de taxas burocráticas para todos os lados. Mas ele viajou, e já deixou tudo praticamente organizado, para que quando retornasse não tivesse mais tantos atropelos.

A convivência entre nós era de total tranquilidade e harmonia. Me sentia acolhida e querida. Era uma situação contrária à que havia vivido até então. Mas ainda trazia comigo os resquícios da "ditadura" vivida com Albert.
Lembro-me do dia em que acidentalmente quebrei um copo e ele quase pôs o apartamento à baixo; ou o dia em que fui fritar ovos...um Deus nos acuda! Me deixou em pânico, gritando que eu queria incendiar o apartamento!!!

Na casa do Uwe, que passou a ser "nossa casa", era tratada de igual para igual, com sinceridade de ambas as partes, sem diferença de origem, e com respeito. Um dia, por descuido, quebrei uma pequena taça  de licor pela manhã, e como ele não estava em casa, queria mostrar o que aconteceu, e não simplesmente jogar fora sem que ele soubesse. Quando chegou do trabalho, tentei lhe explicar o que aconteceu, mas ele pegou delicadamente a taça, abriu o lixo, e me falou sorrindo: "Você não tem que me explicar, isso é apenas algo material, que cedo ou tarde irá se quebrar. Quando isso acontecer outra vez, não se preocupe em me dar explicações,  apenas jogue fora."
Essas coisas parecem bobagens, mas foi algo que me deixou muito feliz e me deu paz. Com o passar do tempo, me sentí segura e liberta, e não me sentia "pisando em ovos", ou como um pássaro fora do ninho...

As festas Natalinas haviam chegado, e eu estava sozinha, sem minha família, sem meus amigos, sem ninguém por perto que fosse do meu convívio. O telefone que o Uwe muito amavelmente solicitou a instalação para que eu pudesse me comunicar com minha família e amigos no Brasil, ainda não havia sido instalado. Só tinha apenas o meu telefone celular, que ele, por uma questão de segurança e muito carinhosamente providenciou, logo no primeiro dia que cheguei para morar com ele, para que nós em nenhum momento ficássemos incomunicáveis, caso acontecesse algo. Mas como era pré-pago, eu não tinha como me comunicar constantemente com o Brasil ainda. Nos falávamos apenas por e-mail, e muito pouco. Enfim, foram momentos de tristeza e solidão. Confesso.

Era véspera de Natal, e eu estava só. Uwe já estava longe e eu não tinha com quem conversar, a não ser com a Maria Luiza. Mas como ela tinha sua família e suas ocupações, e eu não gostava (e ainda não gosto!) de incomodar as pessoas, eu passava mais tempo sozinha no apartamento, revendo meu material de estudo da língua alemã, que eu havia levado comigo.
Nesse dia, eu acordei mais tarde, e como ainda não estava muito familiarizada com a minha "nova vida", e ainda desorientada com tantos acontecimentos, resolví dar uma volta no pequeno centro da cidade, mas qual não foi a minha surpresa quando me deparei com as lojas quase todas já fechadas às duas da tarde. Mesmo assim, dei uma pequena volta no lugar. Olhei ao meu redor e me senti só como nunca. O vazio que eu via nas ruas, se instalou quase que automaticamente dentro de mim...quis chorar. Meu peito apertou e eu voltei pra casa. Fazia frio, e tudo era tão cinza. Tão  sem vida...e eu sozinha...
Desci as escadarias que levavam ao nosso prédio um pouco cabisbaixa, queria chegar o mais depressa em casa. Queria a segurança do "meu lar". Queria a presença de Uwe, que a essas alturas já estava curtindo o sol, o mar e o calor de Cabarete, no Atlântico. E eu tão só...

Era aproximadamente quatro da tarde, quando a  Maria Luiza me telefonou, e me disse que havia conversado com seu esposo, e falado que eu passaria as comemorações natalinas sozinha, e ele sugeriu que ela me convidasse a participar da ceia com eles. Foi quase como uma ordem, ela não queria me deixar sozinha naquela ocasião, e eu achei de uma gentileza tamanha. Não tive como não aceitar. Ela passaria para me apanhar às seis da tarde. Fiquei imensamente agradecida.

Logo que mudei pra morar com o Uwe, eu tinha muito receio ainda de voltar à Dortmund.  A pesar do centro comercial de lá ser muito maior e mais diversificado que o da cidadezinha onde morávamos, onde as lojas ainda eram aquelas especializadas em determinados tipos específicos de artigos, ou lojas para senhores, lojas para senhoras. Lojas que foram herdadas e passadas de geração em geração. E na maioria das vezes com artigos que não tinham nada a ver com a moda jovem do momento, e sem contar que os preços eram muito elevados. Mas as idas para as compras me custavam muitos nervos, pois era como se eu estivesse voltando a um passado ainda bastante recente, com feridas ainda abertas e por cicatrizar. Tinha sempre a sensação de que qualquer carro que estivesse próximo ao nosso, poderia ser o do Albert; ou que qualquer pessoa que subisse ou descesse nas escadas rolantes das lojas de departamentos me observava, podendo ser ele também. Eu não tinha nada à esconder, nada à declarar, mas me sentia ainda muito fragilizada e não estava preparada para um reencontro ou uma confrontação. Não ainda.

Alguns dias antes, pouco depois de me mudar, e já sabendo que ficaria sozinha no Natal, perguntei para a Eliana (que era a amiga brasileira do Alfred, a qual ele me havia apresentado) o que ela faria naquela noite, (eu não tinha a menor idéia de como eram as festas natalinas na Alemanha) e ela falou que não faria nada de especial, mas sim algo simples, como uma sopa ou algo assim, e que convidaria uma outra amiga para um bate papo. Perguntei se poderia me juntar à elas, e ela me disse que sim, mas como ainda era cedo, poderíamos ir nos falando para confirmar.
Na verdade, eu me sentia tão insegura...não havia ainda andado sozinha de trem (que era a única forma de eu ir para Dortmund, pois eu ainda não dirigia...) e ainda não falava quase nada...e o medo da confrontação era enorme, pois ela morava à menos de cem metros da casa do Albert. Eram tantas dúvidas que me martelavam a cabeça e apertavam o coração...não tinha certeza se de fato queria ir...me sentia fragilizada...sem segurança...talvez tivesse medo.
Alguns dias antes do Natal, telefonei para Eliana, como planejado, e perguntei mais uma vez se poderia estar com ela naquela noite, que tinha se transformado numa noite tão triste pra mim. Ela me respondeu que eu fosse, se eu achasse que deveria...Naquela ocasião, devido à minha fragilidade emocional, achei a resposta um pouco vazia e sem muito calor humano, fria e sem sensibilidade. Então decidí não ir.
Mas na verdade, talvez eu só estivesse procurando justificar a minha decisão.
Eu tinha medo. Simplesmente isso.

As comemorações natalinas na Alemanha (não sei em outros países da Europa, mas acredito que sejam bem parecidas...) são bastante diferentes das que conhecemos no Brasil. A base é a mesma para os cristãos, reunir a família para celebrar o nascimento do menino Jesus.
Mas a questão climática faz toda a diferença: no Brasil o Natal é celebrado no auge do verão.
O calor dessa estação do ano é um enorme medidor de estado de espírito e humor.
No Brasil ou em países tropicais, onde o sol brilha por mais tempo, e isso é fato, temos sempre o astral elevado, estamos mais tempo alegres e tudo parece ser festa.
Mas já nos países onde o frio é duradouro, longo e constante, as pessoas estão na maioria das vezes com o humor "comprometido" e nem sempre dispostas. E na Europa, as festas natalinas são comemoradas nesse clima. Nada de churrasco na casa dos amigos ou parentes como estamos acostumados no Brasil. Nada de "reunir a galera" para aquela festança.
Aqui é tudo muito mais formal. Na Alemanha por exemplo, o Natal é comemorado em três dias, e dois deles é feriado, que são os dias 25 e 26/12
(ver http://caminhosquevou.blogspot.de/2013/12/natal-o-que-voce-e.html).

A festa para a celebração da chegada do Ano Novo é um pouco mais diferente, menos formal e mais "calorosa", mas mesmo assim, também devido ao frio do inverno, não dá pra esperar uma comemoração como fazemos no Brasil.
Há queima de fogos, felicitações e desejos de um ano melhor, mas mesmo assim, falta "algo". Quem já vive há mais tempo "fora de casa" sabe como é, e já dá um jeitinho de reunir os amigos e festejar de forma mais "quente", com aquele "ramba-samba" como falam os alemães.

E foi assim que celebrei a "virada" do ano na casa da Maria Luiza, com muito calor humano, rodeada de pessoas que exalavam muita alegria, e um desejo pessoal que minha vida com o Uwe fosse de harmonia e muita paz. Conhecí pessoas novas, que até hoje são de alguma forma especiais em minha vida.

Em determinado momento, resolví me retirar um pouco daquele ambiente festivo. Peguei meu telefone celular e liguei para minha família no Brasil, era tudo que eu precisava: ouvir a voz da minha mãe, que me fortalecia e me dava novas energias pra continuar. Pude falar com minhas irmãs e minha mãezinha. Foram pouquíssimos minutos, até que a ligação caiu...Acabara-se os últimos créditos. O que ficou foi um aperto no peito, uma angústia sufocante, e uma vontade imensa de chorar...chorei! De tristeza, de saudade, de vontade de estar "em casa" naquele momento. No aconchego do lar, onde eu havia crescido...onde eu havia brincado de boneca, do quintal onde eu havia jogado futebol com minhas irmãs, dos pés de frutas que fizeram a nossa alegria, e das brincadeiras da infância...!
Era muita realidade de uma vez só.
Eu apertei o telefone contra o peito e simplesmente chorei.

O esposo da Maria Luiza, que como eu falei para ela em uma oportunidade quando conversávamos, era um homem excepcional, que se importava com as pessoas, um ser verdadeiramente humano, "apareceu do nada", me surpreendeu afundada em minha própria tristeza, colocou a mão no meu ombro, e me perguntou se eu estava bem. Eu levantei a cabeça com os olhos úmidos pelas lágrimas que havia pouco tinha derramado, e lhe respondí que sim. 
Mas eu não estava bem...





















Freitag, 4. April 2014

Você nao está só! Casa das Mulheres - Frauenhaus

Todos que moramos na Alemanha há algum tempo, sabemos que esse é um país que cumpre com sua obrigação constitucional perante os seus cidadãos (sejam eles naturalizados ou não!) oferecendo excelentes serviços de transportes, educação e na área da saúde.

Sabemos também, que aqui, são oferecidos serviços de assistência social de muito boa qualidade (há os que nunca estarão satisfeitos com nada!), para as pessoas que necessitam, ou que estão em dificuldades financeiras. São inúmeros os órgãos e entidades públicas ou privadas que prestam serviço de apoio em diversos seguimentos, como refeições, distribuição de calcados e roupas (se não totalmente grátis, mas por um valor irrisório...)

Mas há um serviço que eu considero exemplar, e que é oferecido especialmente às mulheres que sofrem agressão física ou moral por seus companheiros(as) e/ou parentes,  mas que nem todas infelizmente tomam conhecimento. Esse serviço é oferecido por uma instituição chamada Casa das Mulheres - Frauenhaus.

Lá, a mulher que sofre qualquer tipo de agressão (seja física ou moral) por seu companheiro(a) ou parentes (sejam oficialmente  casadas ou não!), é acolhida por mulheres especializadas no que diz respeito à proteção, e essa ajuda não se restringe apenas à mulher, mas é estendida aos seus filhos também.

Na Casa das Mulheres, a mulher é atendida apenas por mulheres, não precisando se envergonhar pela situação que passou ou esteja passando. Elas são extremamente competentes, e essa organização  é formada por profissionais que darão suporte não apenas na érea assistencial técnica (moradia, vestuário, alimentação), como também assistência psicológica, jurídica e burocrática. E tudo isso é feito gratuitamente (verifique na sua região) , dia e noite e de forma sigilosa!

O endereço da Casa das Mulheres não é revelado ao público, o que garante maior segurança!

Algumas vezes, essa organização é solicitada para intervir em casos extremos, como por exemplo, em um caso em que a mulher esteja tendo dificuldade em sair da residência, por causa do seu companheiro, que a ameaça ou coisas do tipo, então, elas agem em conjunto com a polícia, para resguardar o direito daquela mulher abandonar a residência com segurança.

É muito importante salientar, que para que se tenha esse tipo de ajuda, é preciso estar segura de que realmente a sua situação é extrema, e que você não consegue solucionar o seu problema sem que haja agressão moral, se escalando para uma agressão física. Além do que, a própria vítima tem que estar de acordo. Nada será forcado!

Às vezes,  o problema entre o casal pode ser resolvido com o diálogo, mas às vezes também, a mulher não sabe por onde começar, e para isso, existe um serviço que trabalha em conjunto com a Casa das Mulheres, que dá toda uma orientação, com um diálogo aberto, onde a vítima dos maus tratos explica a sua situação, e recebe a devida orientação, de como agir no seu caso (temos de considerar que nem todos os casos são para fuga ou abandono do lar!). Esse grupo é chamado Mulheres ajudam Mulheres - Frauen helfen Frauen  (fhf).

Eu tive a sorte de participar de uma reunião, onde a vítima sofria de menosprezo por parte do seu esposo (nesse caso, o casal é estrangeiro!). Era ameaçada de receber tapas no rosto; levou empurrões; não tinha direito de ter a chave da caixa do correio, não tendo assim, acesso às correspondências que diziam respeito ao casal; trabalhava, mas não tinha acesso ao cartão do banco para sacar seu próprio dinheiro; sua auto estima já não existia, devido às humilhações verbais que sofria . Era uma espécie de "prisioneira", tendo em vista que não se sentia segura o suficiente para confrontar o seu companheiro e falar-lhe dos seus direitos como esposa e mulher. Só tinha "obrigações" com os serviços da casa e de tomar conta do filho deles.

Ela estava com os nervos à flor da pele, pensando em uma fuga para outro país com a criança, ou simplesmente sair de casa e abandonar o marido. Mas como, se não tinha sua situação financeira definida? Estava tão desesperada, que não tinha noção do problema que poderia trazer para sí. Estava enfraquecida como ser humano e como mulher, devido às constantes humilhações as quais se submetia, por sentir-se só, por estar de fato só, mas apenas no âmbito de não ter parentes que vivessem próximo à ela. Mas ela não sabia até então, que não estava sozinha. Não sabia que morava em um país que lhe dava direitos como mulher, como ser humano e como cidadã.

No escritório das Mulheres ajudam Mulheres - Frauen helfen Frauen (há um número de telefone para se agendar um horário, e esse número é diferente, variando de lugar para lugar, mas na internet é muito fácil de se adquirir), o caso dessa vítima seria avaliado, e dependendo do grau do problema, a Casa das Mulhes seria acionada.  
Fomos atendidas por uma senhora muito educada, tranquila, e que era preparada para lidar com o assunto, e depois que a vítima expôs seu problema em detalhes, e mencionou quais as suas intenções, ela foi tranquilizada para não tomar decisões precipitadas, e lhe foi informado quais os seus direitos como mulher, cidadã e como gente. Lhe foram dadas alternativas para pensar, que poderiam mudar aquele quadro que ela vivia. Saiu de lá com esperanças. Sua auto estima foi fortalecida.

Após alguns meses, tudo se transformou na sua vida. Preferí não saber dos detalhes da razão daquela mudança, mas pelo que pude observar, o diálogo foi a base daquela significante transformação de comportamento. Ela está feliz, pois tem livre acesso ao seu salário como faxineira; tem o seu próprio carrinho usado para locomover-se para o trabalho, e o mais interessante de todos, está com sua auto estima lá nas nuvens!

Mas há casos, infelizmente, onde a vítima tem de abandonar o que fora um dia o seu lar, para literalmente fugir, se esconder, e no último caso, até mesmo mudar de cidade, para poder seguir vivendo. Tudo isso, com o suporte administrativo e jurídico da Casa das Mulheres - Freuenhaus.

Infelizmente, há situações, em que todo um trabalho é posto por água à baixo, quando as vítimas, depois de passarem por toda a assistência e dedicação dessas mulheres que doam o seu tempo em favor de ajudá-las, abandonam tudo e voltam a morar com seus "algozes". Triste, mas verdade.

O trabalho dessas voluntárias, deve ser ovacionado e respeitado. Pois como mencionei antes, elas dedicam-se espontaneamente, em prol de mulheres e das suas crianças que sofrem nas mãos de pessoas sem escrúpulos. Elas não recebem dinheiro por isso. Sua recompensa, é ver que depois de tanto esforço e luta, mulheres recuperaram suas auto estimas e voltaram a sorrir!

E não esqueca: Você não está só!


* Atenção:

1. É importante saber que existem inúmeras Casa das Mulheres - Frauenhaus espalhadas por toda a Alemanha, e por isso são inúmeros endereços na internet, e os números de telefone também. Caso precise, haverá com certeza uma perto de você.

2. Essas instituições são mantidas muitas vezes por patrocinadores ou doadores, mas nem todas têm essa sorte, e mantem-se financeiramente através de seus próprios esforços. 

Donnerstag, 3. April 2014

Optei por ser feliz!

Uwe era um homem alto, de voz grave e olhos azuis-acinzentados, divorciado, sem filhos e que não falava outro idioma que não fosse o alemão. Era dez anos mais velho que eu.

 Até então, eu não o havia dito que tinha um namorado e que as coisas entre nós não estavam bem, e que ainda estava hospedada na casa dele. Mas eu não queria mentir, pois achava injusto e que ele não merecia isso. Foi então que resolví falar a verdade pra ele logo que chegasse em casa, através de uma mensagem que enviaria para o celular dele, pois era a única forma de contato que nós tínhamos. Depois disso, ele era quem decidiria se iria querer continuar me vendo, ou se não manteria mais contato comigo. Era um risco que eu teria de correr, pois mentira sempre foi de encontro aos meus princípios, principalmente se o assunto dizia respeito à relação a dois. 

No domingo à noite, quando cheguei em casa, sentí um pouco de remorso por ter me envolvido com uma outra pessoa, estando ainda hospedada na casa do Albert, mesmo que não tivéssemos nada um com o outro.
 Ele estava sentado ao computador, como era seu costume. Aproximei-me, e me dirigí à ele, e o que saiu da minha boca veio mais como uma súplica... falei então: “Albert, por favor, se você ainda tem algum sentimento por mim, lute. Você pode me perder a qualquer momento.” Albert, sem dar muita importância ao que eu queria dizer com aquilo, sorriu e falou: “Você já chegou em casa?” E completou: ”Como foi o passeio?”

Completamente decepcionada com a reação dele, decidí que não tinha mais volta. Sua decisão estava tomada.

Após o jantar, o Albert foi para o quarto assistir televisão. Sentei-me ao computador e escreví uma longa mensagem para o Uwe, em português, falando para ele toda a verdade. Que não estava na casa de nenhuma amiga, mas sim do meu atual ex-namorado, e que nossa relação havia terminado, e que desde o momento em que o ví, algo havia mudado em mim. E que por ele ser a princípio, um homem bom e respeitador, não seria justo de minha parte começar algo já com uma mentira. Preferiria correr o risco de não vê-lo mais, a ter que conviver com um peso na consciência.
Essa mensagem, que no final deu em duas páginas de papel ofício cheias, eu enviei para a minha amiga na Suíça, para que por gentileza a traduzisse para mim, e me enviasse por e-mail, o que ela muito amavelmente fez.

 No final de semana seguinte, peguei meu celular, e fui sentar-me na cozinha.  Essa longa mensagem, eu enviei para o Uwe em um domingo, através de um SMS, e passei o tempo de duas horas para concluí-la(já que meu telefone celular era bem antigo e não ajudava em nada!). No final, eu acrescentei, que se ele havia sentido que havia a possibilidade de existir algo entre nós, ele saberia qual atitude tomar. E que, caso ele não me respondesse ou ficasse chateado com o meu comportamento, eu também compreenderia.
A resposta dele poderia ser bem amarga, mas eu estava preparada para tudo.

Na segunda-feira pela manhã, quando estava a caminho do galpão onde o Albert tinha montada a sua empresa, e onde eu o ajudava, tocou meu telefone. Era Uwe. Ele havia recebido minha mensagem e queria se encontrar comigo. Ele falou que entendia o que eu estava passando mas preferia conversar pessoalmente. Fiquei tão radiante de felicidade. Era tudo que eu queria, uma chance para esclarecer as coisas com ele e não causar uma má impressão. Não queria que ele se sentisse usado por mim, apenas queria que se algo entre nós tivesse de começar, que fosse de forma sincera e honesta. Assim sou eu.
Nos encontramos no dia seguinte, na estação de trem, bem no centro da cidade de Dortmund. Foi com muita alegria e ansiedade que nós nos revimos. Eu não podia conter um pouco de nervosismo, mas Uwe mais uma vez me passou confianca e tranquilidade. A comunicacão entre nós passou a fluir de forma natural, devido a paciência e carinho dele, mas claro, com a ajuda imprescindível do dicionário.
Nossos encontros eram secretos, e isso me deixava em uma situação muito delicada, pois eu não podia falar para o Albert o que estava acontecendo. Com certeza ele não compreenderia, e eu não me sentia nada bem em viver daquela forma.
Uwe saia da sua cidade que ficava à quase uma hora de distância da cidade onde eu vivia, para me encontrar, sempre depois de largar do trabalho, e esse esforço fazia sentido pra ele. Só mostrava o quanto estava interessado em me conhecer mais e melhor.
Ele sempre foi direto e objetivo durante todos dias que nós nos encontramos. Repetiu que não era rico, mas poderia pagar um curso de alemão para que eu pudesse estudar e lentamente me adaptar à vida na Alemanha. Falou que não gostaria que eu retornasse ao Brasil (já que eu estava apenas como turista no País, sem visto de permanência definitivo, e com passagem de volta já marcada), mas queria que eu ficasse para que tentássemos começar um relacionamento. Tratava-me com carinho e respeito, era evidente sua sinceridade para comigo, e eu me sentia cada vez mais segura ao seu lado.
 Nós sempre nos encontrávamos à tarde, em um restaurante latino que nós "descobrimos". Era um lugar discreto e muito agradável.
Em um desses encontros, uma das brasileiras que estavam presentes quando nos conhecemos, apareceu por lá, e Uwe pediu para que ela me traduzisse, pois não queria que restassem dúvidas sobre suas intenções e sua proposta, para que eu me mudasse para a sua cidade para morar com ele, até que chegasse o dia de retornar ao Brasil. Até lá, nós poderíamos nos conhecer melhor e talvez até tomar uma decisão sobre o nosso futuro. 
Um dia de tarde, Uwe me apanhou em Dortmund e me levou à sua cidade, para que eu pudesse conhecer onde ele vivia. Conhecer seu apartamento, que era muito agradável e arrumado. Ele queria me mostrar que não estava mentindo sobre as suas intenções.
 
Eu viví dias de muita tensão, pois havia prometido que iria pensar na sua proposta. Eu o queria bem, mas por estar ainda na casa do Albert, a pesar de não termos mais nenhum relacionamento, me sentia mal com a situação, que era bastante delicada.
 
Após uma semana, eu me encontrei com Uwe e então lhe falei que havia decidido que iria mudar-me para a casa dele, que nos daria uma chance, e combinamos então que ele me apanharia na casa da brasileira que havia conhecido quando cheguei na Alemanha, e que morava a cinquenta metros da casa do Albert. Não poderia permitir que ele passasse por um vexame, pois o Albert não ficou muito satisfeito quando comuniquei que sairia de sua casa.
 
Comuniquei minha decisão ao Albert, que vinha tentando de uma hora para outra reconquistar-me. Mas eu estava irredutível na minha escolha. A pesar de não ter tido coragem para falar que havia conhecido outra pessoa, e que era para a casa dele que iria mudar-me. Mas à essa altura do campeonato, os detalhes pouco imprtavam. Ao invés disso, falei que iria passar o restante do tempo legal que me era direito na casa da Maria Clara que havia morava na pequena cidade onde estivera. Não mentí de todo, apenas omití alguns fatos que julguei sem tanta importância, pelo menos para Albert. Havia tomado uma decisão que considerava madura. Não iria perder a oportunidade e ao mesmo tempo iria dar uma chance para mim mesma e para Uwe de nos conhecermos melhor.
Mas não foi fácil convencer o Albert, que passou a me ofender com indiretas, e no dia da minha saída do apartamento, ele que havia prometido não voltar mais cedo do trabalho para evitar despedidas e mais agressões desnecessárias de ambas as partes, não cumpriu com sua palavra, aparecendo de surpresa e tornando as coisas ainda mais difíceis para mim.
Passou a mencionar as passagens pagas e gastos que havia tido comigo, no período em que moramos juntos. Mas eu, com muita dignidade, deixei a casa de Albert de cabeca erguida. Partí rumo a minha felicidade, para encontrar-me com Uwe que me aguardava perto dali.
 
A partir dali, um grande desafio me esperava...


 

Mittwoch, 5. Februar 2014

"Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada..."

         Durante o tempo em que esperei pela resposta do Albert, avaliei minha vida com ele, fiz uma retrospectiva e decidí que mesmo sofrendo, teria de ser forte ou até mesmo fria, para poder tomar uma decisão, caso ele optasse por não seguir com o relacionamento. Iria esperar passarem-se os dois meses restante, e então retornaria para o Brasil, para recomeçar tudo outra vez...

Logo que cheguei na Alemanha para viver com o Albert, ele me apresentou uma brasileira muito simpática que morava nas imediações da casa dele, e que já morava há mais de dez anos no país. Eliana* e eu tínhamos algumas coisas em comum, e o melhor de tudo, vínhamos da mesma cidade. Ela me ajudou bastante, me orientando sobre coisas do tipo “onde comprar o quê”; como tomar o trem para ir até a cidade; e os cuidados necessários para quem está chegando a um país desconhecido. Lhe sou muito grata, pois as dicas que me deu foram de muita importância em minha vida fora de casa.
Ela era casada e tinha suas ocupações, sua família, seu trabalho, enfim, não tínhamos como nos vermos constantemente, mas nos víamos quando dava, o que não era de todo ruim, levando-se em consideracao, que sou muito discreta no que diz respeito à privacidade alheia. Além do que, quando somos recém-chegados, ainda não temos o conhecimento do dia a dia, de como as coisas funcionam, de como é a rotina das pessoas no país. Elas trabalham como em qualquer outra parte do mundo (o que pode mudar é a carga horário ou o horário de saída e chegada para o trabalho). Elas levam os filhos para a escola; fazem atividades esportivas, etc. O tempo, é bem restrito para coisas "extras". Principalmente quem tem filhos, pois eles têm sempre o que fazer, depois de chegarem da escolinha (Kindergarten – Que seria para nós brasileiros o jardim da infância, ou a classe que antecede a primeira série do Ensino Infantil) ou da escola. Como por exemplo, fazem dança, praticam alguma modalidade de esporte, vão  ao parquinho mais próximo; têm um compromisso com um amiguinho o outro, enfim, fazem sempre algo. No Calendário de Compromissos da Família (sim, isso existe!) está sempre marcado os horários e compromissos a serem cumpridos, seja individualmente, mostrando o que cada um tem pra fazer durante a semana, ou em conjunto, pois as atividades em família também são valorizadas, principalmente nos finais de semana, onde normalmente todos se encontram em casa. 

Nós duas, sempre que podíamos, costumávamos correr em um parque próximo de onde morávamos. Era uma delícia. Conversávamos sobre nossas vidas, sobre o que desejávamos, nossos anseios...mas falávamos bobagens também, e morríamos de rir com nossas loucuras. Com ela, eu conversava sobre o que estava se passando entre mim e o Albert. E mesmo sabendo que ela era muito séria e responsável, eu me sentia um pouco envergonhada por estar passando por aquela decepção, mas precisava por pra fora, estava sufocando...era como um grito de socorro, talvez. Mas sabia que havia decisões que ninguém poderia tomar por mim. 

Em uma dessas conversas, quando fazíamos nossa corrida, depois que o Albert definitivamente pôs um ponto final na nossa relação, eu lhe falei que não pretendia ir embora imediatamente, mas permanecer e “aproveitar” o tempo que me restava legalmente no país, afinal, não tinha mais nada a perder, além do que já havia perdido. (Albert não havia tampouco se oposto a isso, me disse que poderia permanecer no apartamento sem problemas.) Ela achou que a idéia não era má, e que se eu quisesse poderíamos sair um final de semana a noite, para dançarmos e nos divertirmos. E falou que iria chamar mais uma amiga, também brasileira, que vivia em uma cidadezinha distante quase uma hora de onde vivíamos. Me falou, que a amiga chamada Maria Luiza*, viria no final de semana, e que poderia me apresentá-la.

O final de semana chegou e fomos de fato apresentadas. Foi uma tarde maravilhosa. Rimos, conversamos sobre banalidades, mas também confabulamos sobre uma possível saída no final de semana seguinte. A Maria Luiza, era uma mulher experiente e inteligente, além de muito bonita e expressiva. Tinha muita determinação ao falar, e era direta e realista quando o assunto referia-se a relacionamentos a dois. Gostei muito de tê-la conhecido, mas confesso que sentí uma confusão em minha cabeça. Talvez aquele ainda não fosse o momento exato para tomar uma decisão, do tipo: “encontrar alguém”, “chutar o balde” ou até mesmo “partir pra outra”! Mas...que outra, se eu ainda estava “naquela”?!

O Albert não fez questão, quando eu falei que havia sido convidada para ir até a cidadezinha onde morava a Maria Luiza, acompanhada da Eliana.

Viajamos de trem, em uma tarde fria de sábado, mas a paisagem através das janelas era belíssima. Havia ainda um pouco de neve nos pastos que ficavam às margens da ferrovia, tornando a viagem nostálgica e me pondo pensativa. Na realidade, hoje eu acredito que o que mais me deixava desconfortável, era que eu não queria procurar e principalmente não encontrar ninguém. Afinal, não queria “arranhar” a minha imagem perante o Albert. Nao queria lhe dar o direito de falar mal de mim, ou de me maltratar de alguma forma, caso a possibilidade de conhecer alguém se tornasse real...minha cabeça fervia.
 
Fomos apanhadas na estação de trem, com muito carinho e atenção pela Maria Luiza. Porém, antes que ela chegasse, nós saímos para esperá-la do lado de fora, e qual não foi o meu choque, ao ver aquele lugar tão pequeno, tao legitimamente provincial, sem nada ao redor. Apenas o estacionamento para os carros, um grande ponto de ônibus, com alguns bancos para transformar a espera menos longa, ou mais confortável e a pista principal que leva à cidadezinha mais próxima. O sentimento que traduzia aquela minha primeira visão era o de estar aprisionada. Não desmerecendo o lugar, mas apenas como um comparativo, afinal, vinha de uma capital onde viviam cerca de um milhão e oitocentos mil habitantes. E não em vão eu falei: _ Deus me livre! Eu nunca moraria aqui!  
            A Eliana não se conteve e deu risadas do meu comentário espontâneo e repentino.

Maria Luíza nos levou de carro para a sua casa, que era grande e decorada com muito bom gosto. Me apresentou seu esposo, que foi de uma simpatia e educação indescritíveis. Ela nos fez acomodar nossas pequenas bagagens no quarto de hóspedes, e nos encontramos em seguida todos na sala para descansarmos e batermos um bom papo. Seguimos discutindo o que faríamos à noite, e decidimos sair sem destino certo, iríamos parar em algum lugar aleatoriamente, tomar algo, nos divertir e seguir conversando.

Mas a noite parecia também confabular, só que contra os nossos planos de termos uma noite alegre e divertida, pois em nenhum dos lugares que fomos havia nada para ver ou ouvir. Estavam todos vazios e terrivelmente tranquilos. Foi quando Maria Luíza e Eliana decidiram ver se havia festa no clube da cidade, que na verdade era uma discoteca bem pequena e todos a denominavam assim, onde as pessoas praticamente se conheciam ou já haviam se visto algumas vezes. Partimos então rumo àquele local.

Lá, Maria Luíza me falou que o seu ex-vizinho, que vivia só em um apartamento no prédio ao lado do seu antigo apartamento, às vezes frequentava aquele lugar, e que se ele estivesse lá, caso eu tivesse interesse, ela poderia nos apresentar. Mas, pra que? Eu não falava quase nada em alemão, além do mais, ainda estava profundamente triste com todos os acontecimentos. No fundo mesmo, eu preferia ir embora pra casa. Queria minha paz. Queria minha vida de volta. Estava ainda muito confusa.

Despertei dos meus devaneios, quando ouvi a voz das meninas dizendo que haviam encontrado em um canto da discoteca, um brasileiro conhecido delas. Ele vinha do Piauí, e era muito engraçado, brincalhão e o melhor, dançava muito bem. Pude comprovar quando tive a oportunidade de dançar com ele uma das poucas músicas latinas que tocaram aquela noite. Ele estava supostamente interessado em uma jovem alemã, mas as meninas me falaram que ele era mesmo do tipo Dom Juan, e que não levava ninguém a sério. Para mim era indiferente, pois a única coisa que me interessava nele era o seu talento para a dança, e esse eu explorei o quanto pude.

De fato, foram momentos divertidíssimos. Mas precisávamos fazer uma pausa, então nos aproximamos do balcao do bar, onde as bebidas eram servidas, e tomamos cada uma algo para refrescar. O local de fato estava cheio. Mas mesmo assim, não paravam de chegar mais pessoas. Já era alta madrugada, quando entrou um homem muito alto, e se aproximou do bar, pelo lado oposto de onde nos encontrávamos. Ficando de frente pra nós. Ao abaixar-se para poder falar com os atendentes, pude ver o reflexo dos seus olhos azuis-acinzentados. Nessa ocasião, a Maria Luíza já confirmava para a Eliana que era o seu ex-vizinho que havia chegado. Sentí um misto de surpresa e curiosidade. Quem era aquele homem tão diferente? Tão   grande, tão...

As duas, que falavam alemão muito bem, trataram logo de trazê-lo para onde estávamos. E a sucessão de perguntas e risos quase não tinha mais fim. O conchavo estava feito. Haviam acabado de se enteirar dos detalhes que eram mais interessantes naquele momento: era divorciado havia dois anos, não tinha filhos, vivia só e queria uma namorada.

Nosso diálogo se seguiu não à dois, mas à quatro. Isso mesmo. Ele perguntava, elas me traduziam; eu respondia, elas traduziam para ele. E madrugada foi ficando cada vez mais divertida. Dançamos juntos algumas vezes, e de fato, pude ver que era mesmo muito alto em seus um metro e noventa e três centímetros (comparando-se que tenho apenas um metro e sessenta de altura!).
Havia, por alguns instantes, esquecido as dores que vinha sentindo até então. Dor de tristeza, decepção, mágoa, mentira, falta de atenção. Dor de não ser correspondida em meus sentimentos. Havia esquecido um mundo de lágrimas, insegurança e solidão, e me transportado para um mundo de alegria e felicidade, momentâneos, mas real.

Saímos do bar da discoteca e fomos para o Café, que era menos barulhento por ser separado do outro ambiente por paredes de vidro. Lá, “nós” pudemos conversar com mais tranquilidade, sem o ruído das músicas e o vai-e-vem das pessoas. Alí, eu pude ver em seus olhos, como estava alegre, aquele homem dos olhos acinzentados, que se chamava Uwe.

Como se controlava para não mostrar a sua ânsia, diante da possibilidade de conhecer uma nova pessoa, que poderia vir a ser sua companheira. Ao mesmo tempo, eu me avaliava, e me perguntava se era mesmo aquilo que eu queria. Se não estava me precipitando, talvez pela euforia daquela noite festiva, pelo efeito do alcool, que mesmo tendo sido em pequena quantidade, poderia alterar o meu senso de responsabilidade, minha sobriedade, e o meu senso de serenidade. Estaria certo? Estaria errado? Deveria seguir adiante com aquele “jogo” de sedução?

Uwe, apenas seguia adiante com seu interesse em me conhecer mais ou melhor, e me deu o número do seu telefone em um suportezinho de papelão para por o copo de cerveja. Era chegada a hora e tínhamos que ir para casa, já era tarde (ou cedo...). A Maria Luiza se propôs em dar uma carona para ele, que morava no caminho que ficava entre a disco e a casa dela.
Ao pararmos no estacionamento ao lado do seu prédio, continuamos a conversar, e qual não foi minha surpresa, quando ele me olhando nos olhos, e segurando em minhas mãos, pediu para as meninas me traduzirem a seguinte frase: "Eu não sou um homem rico, mas eu tenho condições de pagar uma escola para ela estudar alemão." Emudecí por alguns instantes...

A meu pedido, a Maria Luíza o agradeceu pela sua gentileza. E por conta própria, sugeriu que podíamos nos encontrar mais tarde para almoçarmos todos juntos em algum lugar, pois era costume a família dela, que era composta ainda de dois filhos menores e uma adolescente, reunirem-se aos domingos e saírem para comer fora. Ele aceitou o convite de imediato.
 

Na noite em que conhecí o Uwe, eu soube de imediato que algo entre nós aconteceria que iria transformar a minha vida para sempre, e naquela madrugada, eu chorei baixinho, sufocando os soluços, para que não fosse percebido o meu sofrimento solitário. Naquele momento, havia sido determinado pelo destino, que eu não mais retornaria para o Brasil, ou que ao menos não retornaria sozinha.


*Em respeito a essas duas pessoas, as quais não quero expor de nenhuma forma, e por uma questão pessoal e de princípios, decidí que as chamarei por nomes fictícios.

Montag, 20. Januar 2014

Aprender o idioma: Questão de sobrevivência




              Como em muitos outros países, ocorre também na Alemanha, que os habitantes locais, (neste caso, os alemães) também gostam (e alguns até sentem orgulho!) de saber que os estrangeiros que aqui moram, têm interesse em aprender a falar o idioma, e de saber que eles também querem integrar-se à cultura do País. O que de certa forma, ao meu modo de ver, é até mesmo uma questão de respeito para com os seus habitantes. Mas é importante saber, que aqui na Alemanha, de acordo com cada região, falam-se às vezes, diferentes dialetos, que nem sempre são fáceis de serem compreendidos até mesmo pelos próprios alemães, e esse é um dos problemas a serem enfrentados pelos recém-chegados ao País.

              A gramática por si só, é complexa, levando-se em consideração que na gramática portuguesa, utilizamos apenas dois artigos: o masculino e o feminino, enquanto que na gramática alemã, além destes dois, existe também o artigo neutro, que denomina coisas, na maioria dos casos. Mas infelizmente, não há uma regra básica e definida para se utilizar estes artigos, e essa é a grande dificuldade já na base do aprendizado. Além do que, alguns artigos que são utilizados para determinar o substantivo masculino no português, no alemão, utiliza-se para o feminino e vice-versa. Por exemplo, as palavras apartamento (die Wohnung) e sol (die Sonne) em alemão são empregadas no feminino, e palavras como mesa (der Tisch) e floresta (der Wald), são empregadas no masculino. Algumas outras palavras que em português são empregadas no masculino ou feminino, em alemão é empregado o artigo neutro, por exemplo: a casa (das Haus), a menina (das Mädschen), a janela (das Fenster), o carro (das Auto), o cabelo (das Haar), e assim, muitas outras palavras.

           Portanto, é muito importante, que ao aprender o idioma, isso seja feito com atenção, pois o que foi aprendido errado, será mais difícil de ser corrigido. A prova disso, é que existem pessoas que vivem no país há mais de dez anos, ouvem as palavras corretas mas repetem automaticamente incorreto, pois foi assim que aprenderam, e talvez por não saberem se autocorrigir permanecem no erro.

           Por saber falar e escrever português (moderadamente!), para mim, foi uma questão de honra aprender o idioma. Pedia ao meu esposo e às pessoas com quem mais tinha contato, para que me corrigissem. Mas, com o passar do tempo, se tornou monótono para as outras pessoas sempre me corrigirem, e eu acabava notando isso, então uma forma que encontrei de evitar mais erros na fala, e aprender mais rapidamente era tentar ler e escrever pequenas frases, sobre coisas que eu precisava para o meu dia-a-dia, e repetir as frases na minha memória, anotar as interessantes e buscar no dicionário as palavras que eram mais faladas. Algo que me ajudou bastante foi manter contato com alemães. Mas com o tempo, passei a observar, que os brasileiros que moram há mais tempo no país, têm uma gama enorme de conhecimentos, e que também se pode aprender novas palavras e novos termos com eles.

           Reescrever as palavras ou frases, é também uma boa forma para se memorizar as mais difíceis, ou seja, através da repetição. Uma outra técnica que desenvolví quando estava frequentando o Curso de Integração, e que me ajudou bastante, foi por exemplo, recortar de uma revista de moda o corpo de uma modelo de biquíni, e colar em uma folha de papel branca. Em seguida, com uma caneta vermelha, escrever os nomes em alemão (com o artigo!) de todas as partes do corpo (da cabeça até os pés) na folha e ligar com uma seta. Essa folha, eu colei no banheiro, em uma parte onde eu visualizava sempre que entrava pela manhã. Já na cozinha e no quarto, eu usei outra maneira de aprender. Escrevia os nomes dos aparelhos domésticos e dos móveis em pequenos papéis (também com os artigos), e colava nos respectivos objetos. Com o passar do tempo, tentava falar o nome daquele objeto sem ler, tapando o nome, e sempre que eu memorizava uma dessas palavras, eu retirava o papelzinho, e assim, foi menos complicado aprender.
 
          Estudar o idioma alemão não foi fácil, ao contrário, foi bastante cansativo, pois houve noites em que eu chorei porque não suportava mais cobrar de mim mesma. Tanta exigência, era desgastante mental e emocionalmente, mas eu queria respeito. Queria compreender e ser compreendida. Não queria ser ignorada pelas pessoas nas lojas, quando fizesse uma pergunta sobre o preço de uma mercadoria, por exemplo.
            Como em uma das vezes, recém-chegada ao país, fui em uma conhecida loja de cosméticos e perguntei o preço de uma sombra para os olhos à vendedora, e ela, sem sequer mover-se um centímetro do seu lugar atrás do balcão, me falou: ”O preço encontra-se na prateleira!”, e deixou-me com o produto na mão. Após não ter encontrado, mesmo tendo procurado no local onde deveria estar sinalizado o preço, deixei a loja com a sensação de angústia e de tristeza, por não ter tido a atenção que achava merecedora como cliente.

             Tudo isso parece uma bobagem, mas não é, pois esses pequenos detalhes faz-nos sentirmos diminuídos como seres humanos (me sentí assim...). Acredito que se soubesse falar melhor o idioma naquela ocasião, tivesse insistido com a vendedora e ela talvez tivesse me atendido com melhor atenção.

           Em outro caso, a situação foi hilária, pois, também recém-chegada à Alemanha, fui à uma grande loja de departamentos para fazer uma troca e, me dirigindo à vendedora que me atendeu, lhe falei que queria trocar a minha “cabeça”, pois estava quebrada, então tirei uma “panela” da sacola e lhe mostrei. A vendedora, que me olhava meio desconfiada até então, pegou a panela e com um risinho me falou: “Por favor, dirija-se ao caixa e apresente a nota fiscal, a senhora receberá o dinheiro do produto de volta.” No caminho até o caixa, me dei conta da bobagem que havia falado, pois as palavras “Topf” que quer dizer panela, e “Kopf” que significa cabeça, são bem parecidas e no meu nervosismo para falar pela primeira vez em público e sozinha, meti a “panela” pela “cabeça”, num trocadilho, pra não dizer que "metí os pés pelas mãos". Hoje, eu até conto isso às pessoas e morro de rir, mas naquela ocasião foi terrível, pois mesmo que não tenha sido humilhada ou menosprezada por ninguém, fiquei envergonhada. Mas esse caso me ajudou a nunca mais esquecer o significado das duas palavras.

Talvez isso possa parecer um exagero, mas, coincidência ou não, hoje por saber falar melhor o idioma, após mais de nove anos morando na Alemanha, essas situações nunca mais se repetiram. Mas acredito, que isso é devido ao fato de saber me impor como cidadã, não importando a minha nacionalidade, apenas porque falo o idioma do país, compreendo e me faço compreender.

Atualmente, a pesar de ainda cometer erros, recebo elogios, e isso me alimenta o ego e dá motivos para continuar, pois não parei de aprender, continuo me esforçando para saber sempre um pouquinho mais a cada dia. Procuro aprender na vivência do meu dia-a-dia, não importando a situação, com os meus amigos alemães, de outras nacionalidades e também com os brasileiros.

Aprender o idioma é fundamental para a integração do estrangeiro ao país, não importando qual. As oportunidades, sejam de trabalho ou de estudo tornam-se mais amplas e possíveis, além disso ajuda e facilita o conhecimento da cultura e dos costumes, e esses são fatores importantes para uma vida em harmonia no país que, de uma forma ou de outra abriu as portas para nos receber.


* Para quem quer aprender ou conhecer um pouco mais do idioma alemão, há oportunidades muito boas e interessantes na internet, que ensinam com clareza, tornando o aprendizado bem divertido.

Um abraço grande!


 


Donnerstag, 16. Januar 2014

Persistir no erro é...falta de amor próprio!


Depois de exatos três meses, retornei ao Brasil. Meus sentimentos em relacão a Albert haviam se transformado. Sentia algo extranho em meu coracão que nao sabia descrever. Era como se o pouco sentimento que ainda existia estivesse morrendo. No fundo, eu sabia que minha relacão com ele não sobreviveria, mas mesmo assim, não queria desistir, estava com meus sentimentos e o meu orgulho bastante feridos. Iria insistir, mesmo sabendo que tudo não seria mais como antes. Havíamos nos ofendido moralmente, e essas ofensas arranharam o que há de mais precioso em um relacionamento: o respeito. Se entre duas pessoas que vivem ou pretendem viver juntas, não houver mais respeito, o melhor a fazer é não insistir. Foi isso que ouví a vida toda, mas mesmo sabendo de tudo isso, não ouví meu coracão. Havia jogado fora uma carreira profissional bastante promissora, deixei minha família e amigos para trás, e não queria regressar como uma derrotada, era orgulhosa demais para aceitar que, mesmo no fim, pode-se recomecar outra vez. Meus sentimentos mais íntimos já haviam me falado, que tudo era apenas ilusão. Não havia sentimento recíproco e verdeiro entre nós. A prova disso, é que após o meu retorno ao Brasil, ele prorrogou o máximo possível a minha volta à Alemanha. Chegou a me mandar um e-mail, me falando que todos os seus planos haviam mudado. Se sentia velho demais nos seus 47 anos para ter filhos, e não queria casar por enquanto, que era melhor permanecerem assim, como estavam. Isso foi um choque terrível para mim, que havia renunciado tudo por alguém que só me manipulou. Desesperei-me, não sabia o que fazer. Não havia nenhuma pessoa com quem conversar sobre esse problema que enfrentava, pois para minha família nunca falei de verdade o que havia se passado enquanto estava na Alemanha. Preferia manter as aparências do que enfrentar a vergonha de ter fracassado. Sofrí calada.
Com o passar dos dias, procurei levar uma vida normal. Aceitei a proposta de voltar temporariamente, para trabalhar na empresa de onde havia pedido demissão. Foram tempos bons aqueles. Pude me sentir útil, mas não feliz por completo. Minha vida havia dado uma reviravolta muito grande. Havia perdido a estabilidade pela qual tanto havia lutado, e o pior é que eu me sentia a única culpada.

Os contatos com o Albert permaneceram, mas eu sentia-me ainda mais insegura. Em meu pensamento, a minha vida estava dependendo dele, e faria tudo para regressar à Alemanha e tentar viver com o Albert, mesmo sabendo que poderia não dar mais certo. Era preciso correr o risco, pois para mim, erroneamente, pensava que já não havia mais o que perder.
 
O meu regresso ao Brasil, foi em um momento de muita delicadeza e apreensão, pois foi exatamente o período em que minha família e eu presenciamos a decadência na melhora do meu irmao, que infelizmente veio a falecer alguns meses depois. Foram dias de muita tristeza para toda a família, mas também foi um momento de muita reflexao para todos nós. A sua morte, extranhamente de alguma forma uniu-nos mais. Conversáva-mos mais e havia mais entendimento.
 
Após terem-se passados exatos seis meses no Brasil, e após muitos dias de incertezas e insegurança emocional, viajei novamente para a Alemanha, havia enfim, conseguido convencer o Albert de que tudo entre nós daria certo. Aceitei inclusive sua proposta de não ter mais filho, de não mais casarmo-nos, a pesar de no meu íntimo pensar o contrário. Pensava, que talvez pudesse fazê-lo mudar de idéia, mudar seu temperamento...Minha identidade estava em risco.

 Em dezesseis de outubro de dois mil e quatro, desembarcava em Portugal. Nas malas, trazia além de meus pertences pessoais, também a ilusão e a esperança. “Queria ser feliz! Iria ser feliz!” Pensava com bastante determinação.

Albert foi apanhar-me no aeroporto de Frankfurt, e fomos em seguida para casa. "Nossa" nova casa. "Nosso" novo lar tão desejado. Dessa vez, tudo seria diferente.
 Após algumas horas de viagem, chegamos em Dortmund, onde morava o Albert. Desarrumei as malas, e ele bastante carinhoso e com muita atencão, falou dos planos para o futuro e que gostaria que eu *trabalhasse com ele, na firma que havia montado com a ajuda de um amigo. Empolgada, e acreditando em uma melhora no nosso relacionamento, aceitei.

Os dias transcorreram com muita harmonia, até que observei que depois de um mês de minha chegada, Albert outra vez estava diferente, não havia ido ao departamento de estrangeiros ainda, então  supus que a minha permanência na Alemanha se daria apenas por três meses, pois ele não tinha até então sequer conversado comigo sobre a regularizacão de minha estada no País. Não havia providenciado para mim, como também da primeira vez, nenhum *seguro de saúde, o que é essencial na Alemanha. Sendo assim, em uma noite, quando nós assistíamos televisão deitados na cama(não, ele não havia mudado esse costume...), perguntei se poderia desligar a televisão um instante, pois teria algo importante para conversar com ele. Ele olhou para mim um pouco desconfiado e a contra-gosto baixou o volume da tv. Então perguntei o que havia com ele, (inclusive intimamente não havia nada entre nós), o que estaria acontecendo. Surpreso com a pergunta, ele disse que estava tudo bem, mas que no momento não sentia desejo, e que isso já lhe havia acontecido outras vezes.
Não satisfeita com a resposta, insistí que ele deveria procurar ajuda médica, e ele respondeu afobado que eu sabia muito bem qual a sua opinião sobre os médicos. (Ele não tinha plano de saúde, pois achava um absurdo ter que pagar dez euros - na época, segundo ele! - a cada trimestre para poder ser atendido em um consultório médico). Insisti que isso não era desculpa, e que ele deveria buscar uma solucão ou procurar ajuda profissional. Permaneceu irredutível. Mas eu também estava firme e seguí com meus questionamentos, e perguntei-lhe quais os planos que ele tinha para a minha vida, se é que havia algum. Albert, assustado com a pergunta, mostrou-se um pouco inseguro e então me falou que os sentimentos que ele sentira por mim haviam-se acabado. Não sentia mais a mesma coisa por mim e que infelizmente não havia o que fazer, que era melhor serem amigos.

Sentí um frio percorrer pelo meu corpo, ao mesmo tempo era como se o chão se abrisse sob os meus pés. A respiracão me faltava, e o meu coracão acelerou, deixando-me sem orientacão. Tudo isso durou uma fracão de segundos, mas foi como se tivesse durado horas. Após algum tempo, lhe perguntei se a mãe dele sabia de sua decisão e qual sua opinião sobre o assunto, e ele respondeu que havia conversado com ela durante a semana e que ela preferia se manter neutra. Eu, que até então havia tentado manter a calma, me alterei e lhe falei com rispidez que ele havia jogado com a minha vida, me tirado do seio de minha família, de um trabalho fixo e promissor, do convívio com meus amigos. Lhe disse em tom áspero, que ele não me encontrou na rua, para simplesmente decidir o meu destino em conversa secreta com a sua mãe, e me descartar como se fosse nada.
Fiquei por algum instante em silêncio, e ainda não acreditando no que havia escutado do Albert, lhe falei mais calma, que era melhor não nos precipitarmos, que daria pra ele uma semana pra pensar se realmente era isso que ele queria. Albert concordou, e em seguida perguntou se poderia almentar o volume da televisão outra vez. Fiquei perplexa com tanta frieza e falta de sensibilidade.

Desnorteada, levantei-me, troquei de roupa e enquanto me trocava, Albert perguntou para onde pretendia ir, pois já era tarde e poderia ser perigoso. Sem dar muita importância, disse que daria uma volta pra arejar a cabeca. Saí, sem a menor nocão para onde iria. Peguei a bolsa, o telefone celular usado, e que tinha o visor quebrado, que ele me havia “presenteado” e saí, naquela noite fria e chuvosa de outono. Andei pelas ruas completamente desorientada, e foi então que resolví telefonar para uma amiga que morava na Suica, em quem tanto confiava, que com muita paciência, me aconselhou que tivesse calma, pois nada poderia ser resolvido aquelas horas. Convidou-me a ir para sua casa na Suica, mas por uma questão financeira, achei melhor não aceitar o convite e assim, economizar o dinheiro que tinha para o caso de precisar.

Desesperei-me com a possibilidade de voltar ao Brasil, voltar como uma derrotada. Naquela ocasião, não pensei que retornar, significava ter a minha vida de volta, minha família e amigos. Pensava apenas na humilhacão que seria, ter que explicar aos curiosos e indiscretos o motivo de minha volta.
Naquela noite demorei a voltar pra casa. Entrei em um bar que ficava na rua onde morávamos, queria chorar as minhas mágoas em um copo de chopp. Sentei-me ao balcão do bar, que naquele horário estava razoavelmente vazio. Tomei alguns chopps, conversei com um cliente que havia mostrado interesse por mim, e que finalmente havia tomado coragem para se aproximar e puxar assunto. Mas eu não tinha o menor interesse em me envolver com ninguém, até mesmo porque minha situacão com o Albert não estava nada resolvida. O senhor me convidou para jantarmos juntos no dia seguinte, no mesmo bar, mas eu só confirmei apenas para que ele finalmente me deixasse em paz, e nunca mais nos vimos.
Fui pra casa já passava da uma da manhã, e o Albert como de costume, ainda estava acordado, vendo televisão, e disfarçadamente me esperava. Me troquei e deitei, adormecendo rapidamente. Com a ajuda das cervejas que havia tomado, nem a televisão me incomodou.
 
Na manhã seguinte despertei mais tarde, e lembrei-me que dalí à dois dias, nós tínhamos o compromisso de irmos jantar na casa de um colega de trabalho do Albert, que era casado com uma brasileira. A situacão era delicada e eu estava completamente irritada, pois se nós não tínhamos mais nada um com o outro, porque então continuar a fazer o papel de namorada? Eu não me achava mais na obrigação, e então falei para Albert, que reagiu de forma bem agressiva e mostrando não querer entender as razões que me levavam a desistir de ir com ele ao jantar. Após discutirmos o dia inteiro, concordei que iria, mas deixei claro que não queria essa história de fazer de conta que tudo ia bem entre nós, eu não queria fazer o jogo dele. Iria apenas o acompanhar como amiga, pelo menos até que se passasse o prazo de uma semana que eu o havia dado, e ele decidisse se era isso mesmo que ele queria, viver como amigos.
O que se sucedeu durante e após o jantar, foram cenas patéticas que eu já havia premeditado, pois Albert se comportou exatamente como eu temia, fazendo de conta que ainda éramos um casal apaixonado, me irritando ainda mais. No caminho de volta pra casa, Albert parecia ter sido tocado pelo sentimento de romantismo e paixão que o casal emanava. Fazia planos, como se ele jamais me tivesse dito que não sentia mais nada por mim. Queria decorar o apartamento e torna-lo mais harmonioso e aconchegante. A essas alturas já não sabia mais o que pensar, estava insegura sobre se valeria a pena insistir em uma pessoa tão instável.
Preferí não me deixar levar pelas emocões e esperei, até que uma semana se passou e durante o jantar, perguntei para Albert se seus sentimentos por mim haviam se reavivado, se nós tínhamos uma chance como casal, como homem e mulher, mas Albert parecia ter voltado ao seu “normal” e estava mais uma vez irredutível, e disse que o que havia decido antes era pra valer, não tinha intencão de mudar de opinião. Já estava decidido. Não suportei ouvir aquilo, afastei meu prato de comida, e sentí minha boca ficar amarga, minha garganta se fechar, me sufocando. Ele perguntou o que havia comigo, e foi então que desabei em prantos. Estava terminado.


*O trabalho para estrangeiros na Alemanha (Europa) sem autorização do Estado é ilegal! Todos os estrangeiros necessitam de permissão, e os que trabalham sem terem essa permissão, caso sejam flagrados exercendo alguma atividade dessa forma, sofrerão as penalidades previstas nas leis do País, e quem emprega também.

*Na primeira viagem à Alemanha, ele falou horrores sobre o sistema de saúde alemão, que hoje sei, é um dos melhores que há na Europa!

segue...

Mittwoch, 15. Januar 2014

Protegendo-se do frio (Marinheiros de Primeira Viagem)

Para aqueles estrangeiros que já moram na Alemanha (ou outros países de inverno rigoroso) há muito tempo, algumas informações podem ser até de pouca importância, mas para os recém-chegados, ou para os que têm interesse em viajar para conhecer o inverno em outros países, é de muito grande valia saber como proteger-se nos dias mais frios.

Acho importante mencionar este assunto, pois vivenciei alguns casos de pessoas que moravam há pouco tempo na Alemanha e não sabiam ainda o que vestir exatamente para proteger-se do frio nas ruas, então vestiam um monte de casacos (que em alemão são os chamados Pullover = pulôver seria a pronúncia para o português ) um por cima do outro, o que as vezes é desconfortável pelo volume das roupas no corpo, e pelo calor que gera.
Isso pode ser evitado, quando se escolhe a roupa correta.
                                                                                                



Muito importante também, é o tecido escolhido, pois um casaco de Jersey por exemplo, que é de um tecido frio na minha opinião, não ajuda muito a esquentar o corpo.
O ideal são as pecas de algodão, que são macias e confortáveis de usar. Se usarmos uma sequência lógica na hora de nos vestirmos, evitaremos de usar tantas roupas sobrepostas, o que facilita inclusive os nossos movimentos, tirando aquela sensação de estar usando "roupa de astronauta".


Por exemplo, primeiro vestir uma camiseta regata de algodão (que irá proteger a região do tórax), por cima vista um casaco também de algodão (Pullover), com ou sem gola alta, cada um a seu gosto, de tecido mais grosso ou mais fino, dependendo da temperatura lá fora, e por cima deste, ponha um casaco de lã por exemplo (claro fica à critério, pois pode ser de outro material, mas que seja quentinho). É importante vestir um Pullover por baixo de um casaco de lã, pois às vezes a lã em contato direto com a pele pode causar irritação ou coceira, além do que, protege mais o corpo do vento frio, formando uma barreira maior de proteção. Por último, ponha o casaco/jaqueta de frio mais grosso, aqueles com ou sem capuz, (que em alemão são chamados de Jacke = iaque seria a pronúncia para o português), que claro, deve ser de acordo com a temperatura do momento, podendo ser menos ou mais robusto.

Para a região inferior, também há uma solução para se enfrentar o frio. Uma calca jeans normal pode ser usada sem problemas, mas o que irá ajudar bastante, será o uso de leggins ou meias-calças térmicas por baixo do jeans, muito fáceis de se adquirir (por preços accessíveis) em qualquer loja como a C&A por exemplo, que existem aos montes mundo à fora, ou em lojas de meias especializadas (que sairão um pouco mais caras).

Uma touca, cachecol e luvas devem compor o figurino de inverno.

*É preciso deixar claro, que essas são imagens meramente ilustrativas e apenas sugestões, e que cada um veste-se como se sente bem!


Como o assunto é esquentar o corpo, não podemos deixar de mencionar que os pés devem também ser bem protegidos, e que nem todos os sapatos ou botas protegem do frio. Um calçado  com solas grossas (pois quanto menos próximos do chão estiverem os pés, menos frio se sentirá), e acolchoado é o ideal. Não precisamos ter um monte de botas e sapatos no armário, (principalmente para quem precisa economizar na viagem) mas escolher o calcado correto fará muita diferença, inclusive no bolso. Uma bota de cano longo, acolchoada, e com solas grossas, podem sim ser uma boa escolha. Ou mesmo as botinhas do tipo para passeios nas montanhas, bem robustas, protegerão os nossos pés.

A diversidade de calcados para proteger do frio é enorme (e tentadora!), mas o mais importante para quem quer economizar,  é levar-se em consideração prioridades como onde usar, e que tipo de sapato necessitamos. Para os dias frios, úmidos e chuvosos, o importante é que esse sapato contenha uma membrana de proteção contra água e umidade, e que mesmo assim, permita que os pés respirem, evitando assim a contaminação por fungos. Uma marca muito conhecida é a  GoreTex, mas existem outras marcas que produzem o mesmo efeito e os sapatos são mais em conta.

O que não se pode esquecer em momento algum, é que é muito importante observar a temperatura lá fora antes de sair de casa, para não errar na hora de se proteger do frio. Para não acontecer como fez uma amiga, que saiu de short, camiseta e chinelo, porque lá fora o sol brilhava e o céu estava azul...mas fazia um frio terrível!!!

Pois é, a vida também tem dessas coisas...até logo!


Sonntag, 12. Januar 2014

Com ou sem visto? Evite constrangimentos se preparando para sua viagem!


Para ficarmos mais informadas!

Algumas pessoas talvez não saibam ou necessitem dessa informação!

Segue abaixo uma lista dos países que não necessitam de visto para a entrada de brasileiros.
É muito importante, verificar se o país para o qual se está viajando exige o visto de entrada, para evitar constrangimentos por conta da questão burocrática!

Um abraço grande!


http://aventure-se.com/2013/10/09/paises-que-nao-exigem-visto-para-brasileiros/

Donnerstag, 9. Januar 2014

A realidade depois da ilusao



Minha mudança para a Alemanha deu-se menos de um ano depois de nos conhecermos. Nós morávamos em um apartamento de quarto, sala, cozinha e banheiro. Não havia varanda ou terraço. Extremamente desconfortável, levando-se em consideração que havia dois velhos aquecedores à gás, que não esquentavam o suficiente para suportar o frio do inverno. Logo nos primeiros dias ele me presenteou com uma linda aliança, mas não a pôs em um determinado dedo, apenas me deu e quando eu perguntei onde deveria usar, ele disse que eu usasse onde quisesse. Posteriormente, a aliança não significou nenhum compromisso.
Em vez de jantares, passeios e festas(como muitas pessoas enganosa mente pensam!), o que me aguardavam eram jantares econômicos, feitos em casa mesmo, e com ingredientes comprados na seção de promoção do supermercado, de produtos com validade de consumo prestes à vencer (''hoje sei que isso é muito comum, e não significa que os produtos estão estragados, mas que o consumo deve ser em curto prazo); passeios de bicicleta; idas à sauna e programas de televisão que eu não entendia, por não falar alemão. Aquilo foi um choque para mim, que nunca havia vivenciado tal situação.  Para piorar, Albert só assistia televisão no quarto e ficava até altas horas da madrugada com o aparelho ligado, e muitas das vezes até adormecia assim, e para mim era um grande tormento, pois estava habituada a dormir na total escuridão e em silêncio. Em minha casa no Brasil eu não tinha televisão no quarto. Algumas vezes pedia para o Albert baixar o volume ou até mesmo desligar, mas ele normalmente não atendia às minhas solicitações, e começava então mais uma discussão. Eu pensava comigo mesma, que se ele tinha os seus costumes e manias de homem solteiro ou que vivia sozinho, porque então procurar uma mulher, se ele não a respeitava? Fui dormir no sofá na sala...mas nem isso o abalou!

Não havia feito planos ou me enganado, no sentido de ter buscado um homem rico que me tratasse como a princesa de um conto de fadas. Sempre acreditei no caráter das pessoas, e na união de dois seres por amor, ou pelo sentimento comum que leva duas pessoas a quererem estar juntas. Algumas vivências pessoais me fizeram crescer, amadurecer e me tornar uma mulher adulta com os pés no chão, o que não me torna menos sensível ou incapaz de me enganar em minhas escolhas. O mais importante de tudo isso, é que sempre fui capaz de assumir minhas responsabilidades diante do preço pago nas consequências trazidas por essas escolhas!

Quando ainda estávamos no Brasil, o Albert havia me prometido espontaneamente, que não manteria mais contato com garotas pela internet, que nossa vida seria de harmonia e de muito amor, o que também não aconteceu, pois uma vez, ele havia saído e deixado o seu computador ligado, e então lí um diálogo que mantinha com uma mulher em uma sala de relacionamentos da internet, e perguntando se não tinha fotos bonitas para lhe enviar. Ali acabou minha confiança nele . Passei a observá-lo através de um quadro, o qual o vidro espelhava exatamente o lugar na sala, onde ele sentava ao computador. E para ver sua reação, falava com ele como se estivesse me dirigindo à sala, mas permanecia no mesmo lugar, apenas para ver se estava certa nas minhas desconfianças, e então via quando ele rapidamente mudava a tela do computador e olhava desconfiado sobre o ombro, para ter certeza de que eu não tinha visto...Era muito triste, pois aquele não era o meu comportamento natural. Crescí acreditando nas pessoas. Acreditando no respeito que duas pessoas que se querem devem nutrir uma pela outra...e parecia que aquele não era o caso...Enfim...passei a acreditar em todos os pressentimentos ruins que tive, antes de viajar pra Alemanha.
Em uma de nossas conversas na internet, ele falou que havia me comprado roupas de segunda-mão, a pesar de eu lhe dizer meio sem graça que não precisava, pois não gostava de vestir roupas que eu mesma não tivesse escolhido, pra não dizer que nunca havia usado ou comprado roupas assim. (Esse é um costume ainda muito praticado na Alemanha, e acredito que em muitas outras partes da Europa, que são os chamados "Secondhand" - Lojas de Segunda Mao, como os brechós no Brasil por exemplo. Principalmente as mães, compram para as suas crianças. Essa é uma forma de economizar, levando-se em conta que existem lojas que oferecem roupas em muito bom estado de conservação, por muito bons preços. Talvez eu não tivesse esse problema se conhecesse essa cultura. ) Tudo em vão, pois ele já havia comprado.

Ao chegar à casa dele, fiquei chocada quando ele me mostrou as coisas que me havia comprado. Modelos tão fora de moda que jamais poderia vestí-los. Era muito vaidosa para isso.
Com o passar do tempo, eu pude observar que havia caído em uma armadilha e, por estar tão desorientada com tudo o que estava vivendo, com tantas omissões e mentiras, não via uma saída ou uma oportunidade para consertar o grande “erro” cometido.

Algum tempo depois sentí uma grande decepção, pois tudo o que ele havia me falado e escrito quando nos conhecemos, quase nada era verdade. Ele havia me falado que era um esportista, que viajava três vezes ao ano para a Austrália para praticar vôos de parapente; que nadava algumas vezes por semana em uma piscina olímpica no centro esportivo próximo à sua residência. Tudo mentira.
 Descobrí que o Albert era desempregado, e que era sustentado pelo Estado havia anos. Ele me havia falado no Brasil ainda, que nunca havia feito uma faculdade e nem sequer tinha uma profissão, mas trabalhava com computadores e tinha sua estabilidade financeira, mas enfim, eu não pensei que fosse tão importante, que o que importava era ser feliz com Albert, já que mostrou-se aparentemente ser uma pessoa séria e havia viajado milhas para me conhecer, pelo menos era o que eu pensava.
 
Eu era uma mulher ainda jovem e que tinha muitos planos em minha vida. Dentre eles, queria casar e ter filhos, e isso ele também havia-me proposto quando nos conhecemos, mas como tudo que o Albert me havia falado, esses foram planos que também não concretizou.

Quando nos conhecemos, eu estava vivendo uma fase de introspecção, não queria namorar naquele momento, apenas curtir a minha vida de solteira, meu trabalho, e viver para mim. Já havia me magoado demais com romances e namoros que não deram certo, mas ele me conquistou de uma forma tão diferente que pensei em me dar uma chance.

 Na Alemanha, não demorou muito, até que eu observei que havia algo de estranho em Albert, pois ele também não esperou muito tempo para me mostrar a sua verdadeira face. Em uma ocasião, ele fez questão de me ensinar, como ele limpava o apartamento, como cozinhava (até a forma como eu cortava a cebola ele me criticava!), como lavava os pratos e etc, e que eu deveria fazer como ele me mostrara. Uma vez, eu havia terminado de limpar os móveis, que eram escuros e que devido aos velhos aquecedores liberarem muita poeira, a sujeira ficava então muito visível. Ele aproximou-se e passou o dedo para verificar se estavam bem limpos, o que eu simplesmente achei um absurdo, mas como sempre fui tranquila e não queria escândalos, apenas perguntei o que ele pretendia com aquilo, pois eu não era sua faxineira e sim sua namorada. Mas não obtive nenhuma resposta convincente, e a partir dali deixei que limpasse ele mesmo.

Com o passar do tempo as brigas ficaram mais sérias, faltando apenas chegarem às vias de fato. Eu havia sido bastante tolerante, não queria acreditar que as coisas não iriam melhorar, tinha esperanças, mas aos poucos via que a situação entre nós só tendia a piorar. Albert não me dava atenção e só tinha tempo para conversar com novas amigas na internet. Além de estar envolvido na busca de um novo trabalho, o que de fato aconteceu.

Persistente como era, eu não queria desistir de tentar, de contornar aquela situação. Algumas vezes, achava que eu mesma talvez fosse injusta e que talvez fosse minha culpa as discussões que se sucediam entre nós. Albert dizia que eu sempre tinha um argumento, e ele me criticava dizendo que eu sempre queria ter a palavra final. Eu não aceitava essas críticas, pois sabia que era inteligente e isso era o que me levava a sempre ter um argumento, e rebater suas críticas, que eram sempre negativas e mexiam com minha autoestima.

Sempre fui uma pessoa determinada e seguia estudando o idioma alemão em casa, a pesar de ter muita dificuldade, e mesmo me comunicando com meu namorado apenas em espanhol. Logo que eu cheguei à Alemanha, em minha primeira viagem ao país, Albert me matriculou em um curso básico de alemão para principiantes, o que foi de grande proveito para mim. Mas não foi o suficiente pra me comunicar e ser entendida com clareza, pois como nós só falávamos em espanhol, não haveria chance de aprender a falar o idioma. Às vezes, sentia-me insegura, por não ter o suporte que precisava em casa, sendo assim, continuei sem saber falar.

A nossa convivência, a vida a dois, era algo que estava fadado ao fracasso. Durante minha permanência na Alemanha, em minha primeira viagem, os dias foram apenas de desentendimentos. Era como se houvesse algum tipo de concorrência entre nós, que eu não podia compreender. Albert vivia criticando o Brasil, falando mal das coisas que ele não conhecia pessoalmente, apenas teoricamente ou de ouvir falar. Minha intenção era viver uma vida de paz e harmonia. Constituir uma família, ter filhos, trabalhar, me integrar ao país que escolhí para viver. Mas meus sonhos estavam sendo destruídos, por alguém que invadiu minha vida com uma promessa mentirosa e egoísta.
 
segue...

Um Conto Corrido

07:30 - O Telefone -Alô! -Mãaaae!! Esqueci a mochila de esporte na parada do ônibus! -Corre por favor antes que alguém pegue! -E onde vc est...