Donnerstag, 9. Januar 2014

A realidade depois da ilusao



Minha mudança para a Alemanha deu-se menos de um ano depois de nos conhecermos. Nós morávamos em um apartamento de quarto, sala, cozinha e banheiro. Não havia varanda ou terraço. Extremamente desconfortável, levando-se em consideração que havia dois velhos aquecedores à gás, que não esquentavam o suficiente para suportar o frio do inverno. Logo nos primeiros dias ele me presenteou com uma linda aliança, mas não a pôs em um determinado dedo, apenas me deu e quando eu perguntei onde deveria usar, ele disse que eu usasse onde quisesse. Posteriormente, a aliança não significou nenhum compromisso.
Em vez de jantares, passeios e festas(como muitas pessoas enganosa mente pensam!), o que me aguardavam eram jantares econômicos, feitos em casa mesmo, e com ingredientes comprados na seção de promoção do supermercado, de produtos com validade de consumo prestes à vencer (''hoje sei que isso é muito comum, e não significa que os produtos estão estragados, mas que o consumo deve ser em curto prazo); passeios de bicicleta; idas à sauna e programas de televisão que eu não entendia, por não falar alemão. Aquilo foi um choque para mim, que nunca havia vivenciado tal situação.  Para piorar, Albert só assistia televisão no quarto e ficava até altas horas da madrugada com o aparelho ligado, e muitas das vezes até adormecia assim, e para mim era um grande tormento, pois estava habituada a dormir na total escuridão e em silêncio. Em minha casa no Brasil eu não tinha televisão no quarto. Algumas vezes pedia para o Albert baixar o volume ou até mesmo desligar, mas ele normalmente não atendia às minhas solicitações, e começava então mais uma discussão. Eu pensava comigo mesma, que se ele tinha os seus costumes e manias de homem solteiro ou que vivia sozinho, porque então procurar uma mulher, se ele não a respeitava? Fui dormir no sofá na sala...mas nem isso o abalou!

Não havia feito planos ou me enganado, no sentido de ter buscado um homem rico que me tratasse como a princesa de um conto de fadas. Sempre acreditei no caráter das pessoas, e na união de dois seres por amor, ou pelo sentimento comum que leva duas pessoas a quererem estar juntas. Algumas vivências pessoais me fizeram crescer, amadurecer e me tornar uma mulher adulta com os pés no chão, o que não me torna menos sensível ou incapaz de me enganar em minhas escolhas. O mais importante de tudo isso, é que sempre fui capaz de assumir minhas responsabilidades diante do preço pago nas consequências trazidas por essas escolhas!

Quando ainda estávamos no Brasil, o Albert havia me prometido espontaneamente, que não manteria mais contato com garotas pela internet, que nossa vida seria de harmonia e de muito amor, o que também não aconteceu, pois uma vez, ele havia saído e deixado o seu computador ligado, e então lí um diálogo que mantinha com uma mulher em uma sala de relacionamentos da internet, e perguntando se não tinha fotos bonitas para lhe enviar. Ali acabou minha confiança nele . Passei a observá-lo através de um quadro, o qual o vidro espelhava exatamente o lugar na sala, onde ele sentava ao computador. E para ver sua reação, falava com ele como se estivesse me dirigindo à sala, mas permanecia no mesmo lugar, apenas para ver se estava certa nas minhas desconfianças, e então via quando ele rapidamente mudava a tela do computador e olhava desconfiado sobre o ombro, para ter certeza de que eu não tinha visto...Era muito triste, pois aquele não era o meu comportamento natural. Crescí acreditando nas pessoas. Acreditando no respeito que duas pessoas que se querem devem nutrir uma pela outra...e parecia que aquele não era o caso...Enfim...passei a acreditar em todos os pressentimentos ruins que tive, antes de viajar pra Alemanha.
Em uma de nossas conversas na internet, ele falou que havia me comprado roupas de segunda-mão, a pesar de eu lhe dizer meio sem graça que não precisava, pois não gostava de vestir roupas que eu mesma não tivesse escolhido, pra não dizer que nunca havia usado ou comprado roupas assim. (Esse é um costume ainda muito praticado na Alemanha, e acredito que em muitas outras partes da Europa, que são os chamados "Secondhand" - Lojas de Segunda Mao, como os brechós no Brasil por exemplo. Principalmente as mães, compram para as suas crianças. Essa é uma forma de economizar, levando-se em conta que existem lojas que oferecem roupas em muito bom estado de conservação, por muito bons preços. Talvez eu não tivesse esse problema se conhecesse essa cultura. ) Tudo em vão, pois ele já havia comprado.

Ao chegar à casa dele, fiquei chocada quando ele me mostrou as coisas que me havia comprado. Modelos tão fora de moda que jamais poderia vestí-los. Era muito vaidosa para isso.
Com o passar do tempo, eu pude observar que havia caído em uma armadilha e, por estar tão desorientada com tudo o que estava vivendo, com tantas omissões e mentiras, não via uma saída ou uma oportunidade para consertar o grande “erro” cometido.

Algum tempo depois sentí uma grande decepção, pois tudo o que ele havia me falado e escrito quando nos conhecemos, quase nada era verdade. Ele havia me falado que era um esportista, que viajava três vezes ao ano para a Austrália para praticar vôos de parapente; que nadava algumas vezes por semana em uma piscina olímpica no centro esportivo próximo à sua residência. Tudo mentira.
 Descobrí que o Albert era desempregado, e que era sustentado pelo Estado havia anos. Ele me havia falado no Brasil ainda, que nunca havia feito uma faculdade e nem sequer tinha uma profissão, mas trabalhava com computadores e tinha sua estabilidade financeira, mas enfim, eu não pensei que fosse tão importante, que o que importava era ser feliz com Albert, já que mostrou-se aparentemente ser uma pessoa séria e havia viajado milhas para me conhecer, pelo menos era o que eu pensava.
 
Eu era uma mulher ainda jovem e que tinha muitos planos em minha vida. Dentre eles, queria casar e ter filhos, e isso ele também havia-me proposto quando nos conhecemos, mas como tudo que o Albert me havia falado, esses foram planos que também não concretizou.

Quando nos conhecemos, eu estava vivendo uma fase de introspecção, não queria namorar naquele momento, apenas curtir a minha vida de solteira, meu trabalho, e viver para mim. Já havia me magoado demais com romances e namoros que não deram certo, mas ele me conquistou de uma forma tão diferente que pensei em me dar uma chance.

 Na Alemanha, não demorou muito, até que eu observei que havia algo de estranho em Albert, pois ele também não esperou muito tempo para me mostrar a sua verdadeira face. Em uma ocasião, ele fez questão de me ensinar, como ele limpava o apartamento, como cozinhava (até a forma como eu cortava a cebola ele me criticava!), como lavava os pratos e etc, e que eu deveria fazer como ele me mostrara. Uma vez, eu havia terminado de limpar os móveis, que eram escuros e que devido aos velhos aquecedores liberarem muita poeira, a sujeira ficava então muito visível. Ele aproximou-se e passou o dedo para verificar se estavam bem limpos, o que eu simplesmente achei um absurdo, mas como sempre fui tranquila e não queria escândalos, apenas perguntei o que ele pretendia com aquilo, pois eu não era sua faxineira e sim sua namorada. Mas não obtive nenhuma resposta convincente, e a partir dali deixei que limpasse ele mesmo.

Com o passar do tempo as brigas ficaram mais sérias, faltando apenas chegarem às vias de fato. Eu havia sido bastante tolerante, não queria acreditar que as coisas não iriam melhorar, tinha esperanças, mas aos poucos via que a situação entre nós só tendia a piorar. Albert não me dava atenção e só tinha tempo para conversar com novas amigas na internet. Além de estar envolvido na busca de um novo trabalho, o que de fato aconteceu.

Persistente como era, eu não queria desistir de tentar, de contornar aquela situação. Algumas vezes, achava que eu mesma talvez fosse injusta e que talvez fosse minha culpa as discussões que se sucediam entre nós. Albert dizia que eu sempre tinha um argumento, e ele me criticava dizendo que eu sempre queria ter a palavra final. Eu não aceitava essas críticas, pois sabia que era inteligente e isso era o que me levava a sempre ter um argumento, e rebater suas críticas, que eram sempre negativas e mexiam com minha autoestima.

Sempre fui uma pessoa determinada e seguia estudando o idioma alemão em casa, a pesar de ter muita dificuldade, e mesmo me comunicando com meu namorado apenas em espanhol. Logo que eu cheguei à Alemanha, em minha primeira viagem ao país, Albert me matriculou em um curso básico de alemão para principiantes, o que foi de grande proveito para mim. Mas não foi o suficiente pra me comunicar e ser entendida com clareza, pois como nós só falávamos em espanhol, não haveria chance de aprender a falar o idioma. Às vezes, sentia-me insegura, por não ter o suporte que precisava em casa, sendo assim, continuei sem saber falar.

A nossa convivência, a vida a dois, era algo que estava fadado ao fracasso. Durante minha permanência na Alemanha, em minha primeira viagem, os dias foram apenas de desentendimentos. Era como se houvesse algum tipo de concorrência entre nós, que eu não podia compreender. Albert vivia criticando o Brasil, falando mal das coisas que ele não conhecia pessoalmente, apenas teoricamente ou de ouvir falar. Minha intenção era viver uma vida de paz e harmonia. Constituir uma família, ter filhos, trabalhar, me integrar ao país que escolhí para viver. Mas meus sonhos estavam sendo destruídos, por alguém que invadiu minha vida com uma promessa mentirosa e egoísta.
 
segue...

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