Freitag, 11. Dezember 2015

Natal: Do Churrasco Tropical à Salada de Batatas!


"Quero ver, você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender, do que faz.
Quero ver o amor vencer, mas se a dor nascer você resistir e sorrir...
Se você pode ser assim, tão enorme assim, eu vou crer...
Que o Natal existe, que ninguém é triste, que no mundo há sempre amor
Bom Natal, um feliz Natal,
Muito amor e paz pra você, pra você (pra você)."

http://www.vagalume.com.br/cancoes-de-natal/quero-ver.html#ixzz3MZSOJn40

Essa música, eu recebí há algum tempo, em uma época natalina, através de uma mensagem enviada por uma grande amiga. Confesso que não ouví até o final, pra falar a verdade, eu só ouví a introdução e imediatamente desliguei. Ela com certeza teve a melhor de todas as intenções, e eu a agradeço imensamente.

Mas acredito, que tanto eu como muitas pessoas, associam algumas músicas à determinados  momentos vividos. E essa é uma música que eu definitivamente não posso ouvir...! Ela me remota a momentos tristes da minha infância, onde eu me questionava sempre que ouvia essa canção no comercial de tv: "Se no Natal ninguém é triste, se no mundo há sempre amor, se tudo é só alegria...então onde está esse mundo que eu não faço parte dele?"

Não conhecí isso na infância. Mas se essa música (hoje eu sei!) falava de tanta esperança, da vitória do bem sobre o mal, força e apoio moral aos abatidos; de levantar a cabeça e seguir adiante como um bravo guerreiro, porque isso não acontecia enfim?  Pois afinal de contas, havia chegado o final do ano, e ninguém poderia ser triste e nem pobre. Mas essa esperança de tudo acontecer como a música falava me angustiava...e ainda me persegue sempre que a escuto!

Crescí sim, acreditando na maior celebração cristã, que é o aniversário de nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador! Mas mesmo assim, pouco ou quase nada ví dessa "celebração religiosa" nos lares que conheço, e nos quais tive a oportunidade de conviver durante essas festividades Natalinas. Via sim, preparativos para comes e bebes.

Claro, esse desejo de mudança e renovação não eram explícitos ou visivelmente perceptíveis, mas todo aquele alvoroço das compras nos supermercados (fartura) para uma mesa repleta de comidas típicas do Natal (não na nossa!), a pintura nova nas casas (renovação); a decoração com luzes de pisca-pisca (felicidade); a compra de roupas e sapatos novos exclusivamente para a ocasião, talvez fossem a expressão implícita da declaração "do começo de um novo tempo" como falava a música, onde tudo seria diferente do que foi até aquele momento. O desejo inconsciente de um futuro melhor, da esperança de uma mudança de vida. Mas a espera interminável por tudo isso me angustiava.

Hoje, vejo e entendo essas celebrações de forma mais viva e real e creio, até com mais maturidade. Sei hoje, que é uma época de esperança, onde as pessoas tornam-se de certa forma mais sensíveis e tratam-se com mais irmandade.  E acredito, que a base dessa celebração em qualquer parte do mundo é (ou pelo menos deveria ser) a reunião da família.

Aos que vivem à mais tempo fora do seu país de origem, o Brasil por exemplo, independente de qual país more atualmente, sabe que as Festividades Natalinas têm suas peculiaridades e cada lugar celebra de acordo com as suas tradições, bem diferentes da nossa no Brasil. Mas muitos que vivem fora, quando chega essa época do ano, têm algo em comum: a distância que os separa dos seus familiares, e a tristeza e nostalgia que envolvem essas festividades quando se está longe de casa.

Algumas pessoas que ainda não conhecem ou ainda não tiveram a oportunidade viver uma celebração de Natal em outro país, principalmente no período do inverno europeu, é preciso saber que não há como se comparar essas mesmas confraternizações, como as realizadas em países tropicais, onde à essa época do ano é verão, e as pessoas estão em sua maioria das vezes alegres, e essa temperatura é apenas favorável à uma celebração com mais calor.

No Brasil por exemplo, é comum as famílias se juntarem nessa época do ano e festejarem o Natal de forma alegre, com uma grande ceia, que algumas vezes costuma ser preparada com antecedência, seguindo-se de um grande churrasco, onde parentes que não se vêm há bastante tempo se reencontram para essa grande confraternização. É tudo tão cheio de vida, de luz, de cor e calor humano...Mas esse tipo de celebração, só ocorre porque há uma grande vantagem em se celebrar essa festa no verão. Onde lá fora a temperatura está agradável, colaborando para o bom humor e contribuindo e influenciando até mesmo nas roupas, que inspiram leveza... dando aquele sentimento de liberdade. No Brasil, a reunião familiar nos finais de semana ocorre com bastante naturalidade e porque não dizer com frequência, mas no final do ano, é algo especial, pois o Natal é considerado mesmo a festa da celebração das famílias.

Já o contrário, acontece nas celebrações em países onde as festas de fim de ano ocorrem no inverno. Posso dizer, que as diferenças na forma dessa celebração é mesmo cultural. Ou seja, o que esperar de uma celebração de Natal em um país onde as pessoas já são educadas para seguir o seu rumo e buscar a sua estabilidade financeira já bastante cedo?
Por exemplo, aqui na Alemanha, os filhos costumam buscar sua emancipação já logo que terminem a sua faculdade. Muitas vezes para conseguirem seus objetivos, são obrigados a deixarem a sua cidade e partirem para outros estados mais distantes, ou até mesmo em outros países. Muitas famílias incentivam seus filhos a crescerem dessa forma, buscando sua independência. Com o passar do tempo, esses retornos ou visitas à família tornam-se naturalmente cada vez mais raros. Muitos procuram se integrar à sua nova vida, e levam isso tão à sério que as comemorações natalinas em família passam consequentemente também a serem mais escassas.

Insistindo na questão cultural, aqui não há isso de viver todo mundo junto e misturado como no Brasil. Cada um procura seguir sua vida, e isso implica e explica um pouco a questão da solidão da velhice, e o abandono de muitos idosos nas casas de repouso ou mesmo em seus próprios lares. É interessante de ver como algumas pessoas fazem mesmo questão de viverem a sua individualidade, sua privacidade, e não abrem mao de ter a sua particularidade preservada, não fazendo questão de manter qualquer tipo de contato com os seus parentes. Às vezes isso me choca um pouco sim, e me faz lembrar o quanto ainda trago em mim do calor humano existente nas pessoas que vêm dos países latinos. Mas tão pouco quero taxar essas pessoas com estereótipos do tipo: "são frios" ou "são desumanos", mas prefiro sim, seguir com o entendimento de que isso também é uma questão cultural.

Claro, não quero dizer que isso seja uma regra, mas acontece com mais frequência do que se imagina.

O frio lá fora nessa época do ano é um grande adversário, pois ninguém irá querer se submeter à friagem. O melhor mesmo é se agasalhar e ficar bem pertinho da sua lareira, quem tiver uma, ou mesmo se aquecer com os aquecedores convencionais. Aqui nada ou pouco existe daqueles grandes encontros familiares na Noite de Natal. O que me alegra nesse dia, é que mesmo não havendo uma grande celebração, o principal não se perdeu no meio do caminho, que é a comemoração do aniversário do nascimento de Jesus Cristo. O ritual para esse dia começa com a realização da Missa da Noite Santa, que é realizada em horários diferentes (a principal é à meia noite como manda a tradição mundo afora!), mas em especial a celebração à tarde para as crianças, onde o ponto máximo é a interpretação da Bíblia com a chegada do Jesus Menino. Após a missa, as famílias vão para casa, para abrir os seus presentes, se confraternizarem com uma simples mas significativa ceia, e se divertirem com jogos interativos ou mesmo um bom filme.

*Aqui o comércio fecha às 14:00h e tudo parece triste e deserto. Já viví essa experiência logo que cheguei aqui, e narrei em um outro Post. Foi deprimente!

O mesmo serve para a comemoração da virada do ano. São poucas as famílias que comemoram com uma grande festa a entrada do Ano Novo. Raramente vemos isso na Alemanha, com exceção de algumas famílias que sofrem a influência da cultura de países onde essa data é celebrada com uma grande festa, incluindo-se aí músicas e danças de ritmos alegres e todos festejam grandemente. Caso contrário, apenas a queima de fogos, alguns canapés e um brinde com um espumante ou um champanhe faz notar a celebração do encerramento do ano.

Acho muito interessante que em grande parte da Alemanha, o grande banquete do Natal, ao contrário do que estamos acostumados no Brasil, não ocorre na noite do dia 24, mas no almoço do dia 25.
Na véspera do dia de Natal, nas famílias mais tradicionais, o jantar baseia-se simplesmente em um purê de batatas com linguiça assada; ou salada de arenque (peixe parecido com sardinha) e batatas. So pra salientar, não há uma explicação plausível para que seja assim, alguns falam que pela praticidade, já que muitos trabalham nesse dia até de tarde, e então não sobra tempo para muita coisa.
Uma curiosidade é que na Alemanha, além do dia 25, também tem o dia 26 como feriado, porém, a Igreja Evangélica, que tem bastante influência na Alemanha estipulou esse dia como feriado,  mas não vincula esse dia às celebrações do nascimento do Cristo, senão como um dia em celebração à memória de Santo Estéfano.

Uma outra questão que gostaria de mencionar, é a influência na decoração natalina brasileira. Algumas pessoas se questionam ou até mesmo se chateiam quando o assunto é a decoração e os símbolos natalinos que são usados para a decoração dessa festa no Brasil. Muitos acham que é "americanizada" e que não traz nada que lembre as raízes do lugar. Concordo até certo ponto, mas não tem nada de americanizada, pois a final de contas, os Símbolos Natalinos que usamos para a decoração, nada mais é que o produto da influência européia trazidas pelos alemães que foram morar na Américas do Sul e do Norte há muitos anos. Por exemplo, em minhas pesquisas, verifiquei que o Pinheiro de Natal, surgiu com a idéia de Martin Lutero, o fundador do Protestantismo, que segundo consta, após um passeio à noite na floresta, ficou tão encantado em ver o brilho das estrelas e os pinheiros cobertos de neve, que "resolveu" trazer pra dentro de casa aquela imagem que o seduziu. Pra isso, substituiu as estrelas por velas e a neve por algodão. Enfim, tudo é a criatividade. E nada impede de no Brasil, as pessoas usarem dessa mesma criatividade e usarem produtos e matérias primas regionais para fazerem sua própria e original decoração natalina.
O mesmo se dá com o tão festejado "Bom Velhinho", ou como tão bem conhecemos no Brasil o Papai Noel, que mundo afora tem tantos outros nomes, mas todos eles se referem originalmente a apenas um personagem: o Bispo Nicolau, que nasceu na Turquia há muitos anos, e era considerado um homem de muito bom coração, pois ele tinha o costume de ajudar os menos abastados, se escondendo à noite por trás de um capuz, e assim, aproximava-se das residências pobres nos pequenos vilarejos sem ser reconhecido e colocava saquinhos com moedas nas suas varandas. Com o passar dos anos,  à ele foram atribuídos alguns milagres e a igreja Católica o canonizou, e ele hoje é o São Nicolau. A Alemanha o celebra festivamente no dia 06 de Dezembro, como sendo o dia em que as crianças limpam as suas botinhas, põem na entrada da casa e esperam receber no dia seguinte pela manhã, chocolates ou presentinhos caso tenham se comportado bem, ou ao contrário, recebem apenas uma pedra de carvão como "castigo". Claro, que esse castigo hoje pouco se aplica na realidade, sendo usado apenas como uma forma de "lembrar" as crianças ao longo de todo o ano, o que a espera caso sejam malcriadas.
Sobre o manto e o capuz vermelho, isso também faz parte da criatividade e foi implantado ao longo dos anos.
Mas ao meu ver, não há muita razão para alvoroços ou desinquietação, em relação às influências de outras culturas sobre as celebrações natalinas no Brasil, pois a final de contas, nada impede que as pessoas também usem de sua criatividade e tragam os produtos regionais para dentro de suas casas como artigos decorativos. No Nordeste brasileiro por exemplo, muitas pessoas já se utilizam das matérias primas regionais na confecção e montagem de Presépios Natalinos, ou até mesmo na culinária, trazendo para a Ceia de Natal um sabor mais regional, e não deixando assim, de celebrar da mesma forma.  

Não posso deixar de mencionar, o quanto o espírito de solidariedade nessa época do ano fica mais visível aqui também. E acho que isso acontece em todas as partes do mundo. A cultura mundo afora sabemos que é bastante diversificada, mas quando o tema é o Natal, acredito que todas falem a mesma língua. Me alegra ver, que os seres humanos ainda não perderam o que eu considero mais louvável, o amor e o respeito ao próximo, e isso é o que une e aproxima as pessoas, independentemente de suas origens. Em todas as partes do Globo, principalmente nas festas Natalinas, cidadãos se unem em favor de uma mesma causa: ajudar o próximo! Seja lá de que forma for, em pequenos grupos sociais; programas de televisão; em comunidades envolvidas por uma religião, seita ou doutrina, a finalidade será a mesma: de levar aos menos favorecidos mantimentos, produtos de higiene pessoal, agasalhos, roupas e calçados; ou o principal, que é um pouco do seu tempo e do amor que há em sí. E isso faz com que ambos os lados saiam ganhando. Seria bom se

Ahhh como seria bom se o Natal fossem todos os dias!

 


Mittwoch, 9. Dezember 2015

Advento - A Luz do Mundo

Olá!

Dando uma pequena trégua nos assuntos voltados à migração dos exilados para a Europa e às inúmeras tentativas e atentados terroristas que nos aterrorizaram verdadeiramente esses últimos tempos,  quero dar passagem a "contagem regressiva" para as comemorações referentes ao nascimento de Jesus Cristo.
 E nada mais importante que iniciar essa contagem com uma das maiores tradições alemãs, que é marcada com o acendimento das velas do Advento. As quatro velas que circundam  a Coroa do Advento(Adventskranz)  marcam os quatro domingos que antecedem a Noite Natalina. A cada domingo uma nova vela deverá ser acesa, e cada uma delas simboliza a proximidade com a chegada do Jesus Cristo, e por fim, em 24 de Dezembro o nascimento do Salvador, e a Luz do Mundo estará acesa verdadeira e simbolicamente com as quatro velas. Uma curiosidade é que a Coroa do Advento originalmente falando, é confeccionada com ramos verdes de pinheiros entrançadas, formando uma coroa e nela são fixadas as quatro velas do Advento. Essa época do ano é onde as floriculturas faturam extra com a confecção e as vendas dessas coroas, além de muitas outras decorações feitas com os ramos dos pinheiros.

Mas como não poderia deixar de ser, essa tradição continua viva, mas ganhou um toque de modernidade, onde as velas do Advento são postas em objetos decorativos, que podem ter forma e textura bem diferentes da tradicional coroa de pinheiro, como por exemplo objetos decorativos de mesa em metal,  porcelana, madeira etc, que são aproveitados e decorados de acordo com o gosto individual de cada um.





E para acompanhar essa "contagem regressiva", existe o Calendário do Advento (Adventskalender), que é um calendário especial com 24 janelinhas, contados a partir do dia 1° de Dezembro simbolizando os 24 dias até a chegada do Natal.




À esquerda um calendário pronto das lojas de decoração, e à direita o calendário confeccionado pela querida amiga Giovana Wittmer.

O acompanhamento desses calendários tem um sentido especial, mostrando de forma divertida quantos dias faltam para a chegada do Natal, e para as crianças em especial, pois cada janelinha apresenta uma surpresa. Algum8as pessoas preferem confeccionar os seus próprios calendários ou comprá-los prontos nas lojas de decoração, fugindo assim dos modelos tradicionais já prontos oferecidos nos supermercados ou lojas de departamentos, que são confeccionados em papelão.





Quase se comparando com o consumismo dos ovos de chocolates vendidos na semana de Páscoa no Brasil, assim as grandes marcas também investem nesse grande filão que são as comemorações natalinas na Alemanha.

As grandes marcas de brinquedos do mercado, já viram nisso um grande potencial de vendas de seus produtos e já criaram seus próprios calendários onde dentro das janelinhas, além do tradicional chocolate, também são encontrados brinquedos em miniatura.
E como os adultos também não poderiam ficar de fora, há os calendários mais ousados e que trazem uma conotação erótica, para os homens e também as mulheres. As lojas de bebidas que também aproveitaram a onda já inovaram oferecendo grades de cervejas com tipos variados, em estilo de Calendário do Advento.


Como se não bastasse, algumas marcas mais conhecidas já ousando e de olho nos consumidores mais aficcionados no mundo virtual, lançaram Calendários do Advento Digitais, com Apps que dão presentes ao serem baixados pelo Smart Phone.                       
                                            
É, pelo visto, o "Espírito de Natal" precisará  se informatizar o mais rápido possível...ou se perderá no meio do caminho...

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Mittwoch, 18. November 2015

Povos diferentes. Diferentes Pensamentos.

Olá! Hoje quero falar de um tema que é muito delicado, não é nada novo, mas que infelizmente ganhou a notoriedade da mídia por conta dos novos ataques terroristas em Paris.

A convivência entre povos de diferentes nacionalidades.

Em um país onde vivem tantos estrangeiros, não há como passar despercebida a influência cultural desses povos que dividem o mesmo solo. Seja na culinária, na religião, língua falada e escrita, ou na sociedade de uma forma geral.

É lógico, que para povos com culturas e comportamentos bem diferentes conviverem juntos, é necessário que haja sobretudo respeito e tolerância. É simplesmente inevitável, em um planeta habitado por diferentes povos, não haver conflitos de opiniões. Basta considerarmos que, há países mais ou países menos conservadores, e que quando esses povos se encontram e têm que conviver juntos, há fatores que irão influenciar de uma forma ou de outra na harmonia dessa convivência. Só para citar por exemplo, fatores como religião, política, comportamento, e liberdade de expressão, podem ser um barril de pólvora se esses temas forem mal interpretados.

No que se diz respeito à religião de um povo, haverá sempre questionamentos e críticas, pois a intolerância infelizmente falará sempre mais alto. Isso, claro, não é uma generalização, pois haverá também sempre as exceções, que irão balancear uma convivência mais harmoniosa entre povos com diferentes cultos religiosos. 
Na América do Sul, há também diferentes países que falam quase todos o mesmo idioma, mas que cultuam diferentes hábitos e religiões. Só para dar um exemplo, no Brasil 68% da população pratica o catolicismo, mas há também praticantes da religião Protestante, Hinduísmo, Budismo, Candomblé e muitas outros variados credos, cultos ou seitas. Povos com diferentes pensamentos, mas que são capazes de respeitarem-se uns aos outros em sua maioria das vezes. 
Na Europa, vivem milhões de muçulmanos, judeus, budistas e seguidores de muitas outras religiões, além do catolicismo e protestantismo, vindo dos mais variados países. Alguns procuram integrar-se à cultura ocidental, outros, fazem dos seus bairros e seus lares uma extensão de seus países, onde ali prevalecem (na maioria das vezes) as leis que regem suas religiões.
Os muçulmanos são os que mais se sobressaem diante de muitos outros, por serem considerados exóticos e rigorosos em sua forma de vestir e se comportar. Isso não seria nada demais, se esses povos não quisessem impor a sua cultura e forma de viver como sendo a correta, criticando o estilo de vida e cultura dos países ocidentais como sendo incorretos, de mal exemplo e libertinos. Com esse pré-julgamento muitos saem de seus países para o ocidente, e não aceitam por exemplo, que as mulheres sejam emancipadas e livres para decidirem sobre suas vidas.
Nas grandes capitais, existem ruas inteiras onde seus moradores são turcos ou de países de origem árabe, onde se pode ver um comércio diversificado, com placas de propaganda em turco, ou idiomas de origem árabe, sendo impossível para quem não tem conhecimento da língua saber o que está escrito. Há também consultórios médicos com placas em idioma estrangeiro e em alemão, para facilitar um pouco a identificação. 
Algumas das famílias mais conservadoras (na maioria impera-se o poder patriarcal), não permitem o casamento dos seus filhos com pessoas de outra nacionalidade ou credo senão os seus. Os casamentos “arranjados ” são bem mais comuns entre eles do que se imagina, e quem não respeita as regras impostas pelos pais ou membros masculinos da família, podem sofrer rigorosas punições. Mas nem sempre as “leis” que regem essas famílias são respeitadas, pois há cada vez mais jovens, rapazes e mocas, nascidos em países do ocidente, como na Alemanha por exemplo, e criados em regimes rigorosos, que se rebelam contra seus familiares e não aceitam tais “regras” de matrimônio, ou querem apenas serem aceitos em sua opção sexual (visto pelos muçulmanos como crime de morte!). Muitos insistem em manter relacionamentos com pessoas que não sejam de sua mesma religião ou origem, o que nem sempre termina bem, pois, já foram registrados muitos casos de parentes (pais e/ou irmãos) que “em nome da honra”, levaram a punição um pouco além da conta, e esses jovens “rebeldes” tiveram que pagar com suas vidas o preço de sua liberdade. Devido à esses e outros casos de conservadorismo extremo dentro do islamismo, é que infelizmente há uma certa discriminação sim dessa população, não só na Alemanha como em outros países europeus.
Para muitos, é inaceitável que essas pessoas vivam na Europa, em países extremamente modernos e avançados, onde temas como divórcio, casamento, aborto e homossexualismo já deixaram há muito tempo de ser tabu na sociedade, nas escolas ou dentro da família. Assistir na televisão ou ler nos jornais que mulheres são assassinadas por seus esposos “em nome da honra”, por não quererem mais continuarem casadas, sendo tratadas de forma desumana apenas por serem mulheres, e porque pediram o divórcio, derramando, segundo eles, “a vergonha” sobre as famílias envolvidas é algo que parece quase irreal e bastante assustador. Mas não são apenas os maridos ou os pais que punem essas mulheres, há pouco houve o caso de uma jovem ter sido sequestrada do apartamento onde vivia com seu namorado alemão e, muitas semanas depois encontrada morta, jogada em um descampado, como se fosse nada, como se com isso a sua família tivesse se livrado de uma “coisa” que os incomodava diante da sociedade em que vivem. E as investigações apontaram para suas irmãs, como as culpadas pela tragédia.

Um outro fator que leva os políticos e a sociedade à grandes debates e discussões, são os Extremistas Islamistas, que estão envolvidos com o terrorismo que assola o mundo.  Na Alemanha, houve o caso em que membros deste Grupo Radical planejaram ataques terroristas no verão de 2006, nas cidades de Dortmund e em Koblenz. Na ocasião, foram encontras duas malas de viagem em trens regionais das respectivas cidades contendo explosivos. Os especialistas informaram que, devido à uma falha na construção da bomba não ocorreu a detonação, o que salvou com certeza muitas vidas.
Outro caso ocorreu em 2007, quando três terroristas (dois alemães convertidos ao islamismo e um turco) envolvidos com terrorismo, foram descobertos em uma casa de férias alugada, na região de Sauerland. Na residência, a polícia encontrou enorme quantidade de produtos químicos e explosivos, que os especialistas afirmaram serem de poder de destruição muito maior que os ataques terroristas ocorridos nos trens de Madri em 2004, e o de Londres em 2005. Ou seja, há muito que a Alemanha está na mira dos terroristas. Tivemos sorte entao? O que dizer?
Nos dois casos, os suspeitos foram capturados e condenados à prisão.

Seguramente, há as muitas exceções, onde as famílias menos conservadoras, não importando de qual religião são adeptos, não têm problema de manterem contato com pessoas de outros credos e nacionalidades, vivendo em harmonia, não sendo tão pressionados pela sociedade no que diz respeito à integração e convivência social pacífica. O tema Integração, tem sido bastante discutido nesses últimos tempos na Alemanha. Nunca se discutiu tanto e veementemente sobre o que é integrar-se socialmente a um país, como se está sendo discutido nos dias de hoje. O tema tornou-se discussão política constante, e quase não sai da pauta dos muitos programas de entrevista na televisão alemã.
Acredito que nós estrangeiros, não precisamos perder a nossa identidade e passarmos a viver a identidade do país que escolhemos para viver. Muitas vezes, nós nos integramos tanto, que nem percebemos que agimos de acordo com o que a vida no país exige de nós, e isso acontece inconsciente e naturalmente. Não necessitamos (e nem poderíamos) esquecer as nossas origens por estarmos convivendo com pessoas de origens diferentes, em um país que de certa forma, querendo nós ou não, irá nos envolver em sua cultura. Mas por outro lado, não podemos querer impor, ou “enfiar goela” a baixo a nossa cultura de forma forçosa, às pessoas ao nosso redor e do nosso convívio diário. Penso, que devemos e temos o compromisso de nos darmos uma oportunidade e sermos flexíveis para facilitar a nossa introdução à esse “novo mundo” que estamos por descobrir. Lutar contra isso, é pouco inteligente, afinal de contas, houve uma razão para se querer mudar de país, e isso implica mudanças pessoais e comportamentais também.
Quando se chega em um país que se escolhe para viver, falando aos quatro cantos que as coisas do “meu país” são as melhores; que tudo no “meu país” é melhor; fazendo comparações constantemente, então o que resta é se fazer algumas perguntas: O que se está fazendo em um lugar que não é agradável? Porque abandonar tudo e ir para um país onde nada é satisfatório? Porque insistir por anos a fio em morar e viver se contrariando?

A decisão de se morar em um país onde não nos sentiremos felizes, é algo muito sério e deve ser pensado com bastante responsabilidade, antes que o tempo passe, antes que seja tarde demais para um recomeço. Pois o tempo passa e o que se perdeu ficou para trás e não retornará mais.

Montag, 31. August 2015

Amor em Porções


Ela me chama de "irmã". E ela me faz tão bem. 
Quem mora em lugares onde os mulçumanos são em grandes números, como na Alemanha por exemplo, sabe que são em sua maioria pessoas que vivem em seus "guetos", grupos fechados e, por nada abrem mão de seguir os seus conceitos, preceitos, normas, regras e leis. Não "se misturam" fácil! São em sua maioria sisudos ou de poucas palavras. Falo do que eu vejo e vivencio. Não são todos. Conheço os dois lados! 
Mas ela é de fato diferente...minha "irmã" é diferente. Ela trás na cabeça o seu tradicional lenço. Mas trás no seu coração também o diferencial. Trás no seu sorriso largo algo especial. Ela é linda. Simples no seu vestir e exagerada nos seus gestos. Guarda dinheiro no soutien, e nem se importa de tirar a bolsinha com o pouco que carrega, ali no caixa,  na frente dos outros...nem se importa. 
Diria que seria  brasileira em suas atitudes...ou seria ela um espelho meu?  
As vezes quer ser formal e me chama de "Frau!", num alemão atrapalhado, que pra ela seria o mesmo que me chamar "Senhora!" 
Ahhhh deixa disso! Continua me chamando de "irmã" (Schwester!) ...quero continuar sentindo que eu sou igual você. Não quero me perder nesse turbilhão de exigências que o mundo impõe...não quero ver duas bandeiras entre nós duas. Quero ver em você, o que o mundo quer ocultar. 

-"Irmã", obrigada por afastar da minha frente um véu de mentiras. Um véu que diz que: "quem tem mais vale mais!"
Se é assim, você é a pessoa mais rica do mundo. Porque, um coração desses...não há dinheiro no mundo que pague!
Você talvez nem saiba "irmã", mas a caridade verdadeira é assim: a gente faz e nem percebe! E eu sou a carente dessa história! 

Sabem aquelas vezes, em que o coração fica em festa quando a gente vê uma pessoa? E parece que tem um cordão invisível ligando-o aos lábios, e você sorrí sem perceber? Pois é, a minha "irmã"  consegue fazer isso comigo. Louco? Extranho? Diria que é amor fraternal! Sim, ele existe, eu o conhecí...

Minha "irmã" ontem (29.08)levou lá no meu trabalho, um prato de sua comida tradicional! Que é feito à base de Folhas de Parreira. (Weinblätter em alemão). Ela havia me prometido, já há duas semanas...
 Foto original da minha Dolma ou Sarma
https://de.m.wikipedia.org/wiki/Dolma

Essa especiaria da cozinha oriental, que pode ser chamada de Dolma (recheado) ou Sarma  (embrulhado), pode ser recheada por diferentes iguarias, como carne de carmeiro moída, arroz cozido quebradinho (o que eu ganhei!), com temperos diversos e amêndoas. Preciso dizer, que o sabor me levou a uma viagem à fàbula das "Mil e uma noites..."

Tanto amor e carinho em uma porção só.

Outro dia, ela me trouxe um Pão Árabe fresquinho e ainda quentinho, do mesmo que seria servido na sua ceia após o jejum diário, pelos quais os mulçumanos têm que passar, no período do Ramadan.

Só posso retribuir-lhe tanto carinho, dando-lhe de volta na mesma medida, a atenção que me desprende.

Às vezes eu penso em perguntar o seu nome, mas assim o encanto se perderia...e prefiro que siga dessa forma, especial.

Só sei, que eu acredito que nada acontece em vão, e tudo isso só  vem apertar ainda mais os nós do meu credo. Ele diz, que não somos mais nem menos que ninguém.
Se somos então iguais, não há o que temer. Sou feliz por ter aprendido mais esta lição...

Não vejo a hora de rever a minha "irmã" e dizer -lhe, o quão saborosa estava aquela porção de carinho!

Alessandra Heidenreich


Montag, 3. August 2015

Mães não choram




É tão triste e doloroso ver uma mãe sofrer por estar longe do seu filho amado...é tão triste de ver sorrisos escondendo a dor e a angústia guardadas no seu coração.

Poucos imaginam, mas são muitas as mulheres que decidem mudar de país, e que tomam essa decisão pensando em melhorar a sua situação financeira e social, para poder oferecer "o melhor" para seus filhos no futuro, e se possível em um futuro não muito distante, ou seja, logo que se estabeleça no país para o qual se mudou.
Às vezes tomam essa decisão sozinhas, outras vezes com o apoio e  incentivo de algum parente ou amigo que já vivem em algum outro país, ou até mesmo através de um namorado que a incentivou de alguma forma, com a proposta ou possibilidade de um trabalho. Ou para simplesmente viver com o seu parceiro (que quase sempre é estrangeiro).
As razões que as levam a tomar essa decisão podem ser as mais diversas possíveis, como por exemplo, a falta de perspectiva na sua vida profissional; uma desilusão amorosa; o desafio por desbravar um novo (velho) mundo; o simples desejo de viver uma outra cultura, ou por alguma outra razão pessoal.

Em muitos casos, esses são planos feitos até inocentemente por essa mãe. Eu falo "inocentemente" não pela sua natureza em sí, mas pela sua ignorância que esbarra nas questões burocráticas peculiares no que diz respeito ao assunto, que envolvem as leis do país para o qual mudou. Há países que realmente não só não facilitam como até mesmo proíbem a permanência de filhos de imigrantes. Por estas razões é preciso se informar bem sobre o tema "trazer os filhos do Brasil para o país onde se vive" para prevenir ou evitar aborrecimentos.
 
 
Devo mencionar que esse é um tema muito delicado, principalmente se esses filhos são menores de idade, pois os principais "personagens" dessa história, e que no final acabam sendo os maiores prejudicados ou quem mais sofrem quando esse assunto não é bem trabalhado e resolvido de forma legal e sensata, são as crianças, que não entendem porque sua mãe (que na sua cabecinha é a pessoa que mais a ama) não está ao seu lado. E, claro, o problema acaba se tornando um efeito dominó, pois se a mãe não tem a criança ao seu lado, ela sofre demasiado, alimentando em sí um complexo de culpa quase que insuportável, por ter sido ela a "causadora" da situação. Levando-a muitas vezes ao desespero e a tristeza profunda, o que pode desencadear uma depressão por não poder resolver a questão ao seu modo e em tempo hábil.

 
Quando uma mãe pensar em levar o seu filho para morar com ela no exterior, fatores muito relevantes devem ser visto como prioridade, como por exemplo, se essa criança terá uma estrutura familiar; se no caso de ir morar com o seu companheiro ou marido que ela sinta-se querida e bem vinda também por ele; lembrar que essa criança irá visitar uma nova escola, onde além de todas as pessoas serem estranhas do seu convívio diário até então, ela não fala nenhuma palavra daquele idioma, e que isso poderá trazer problemas psicológicos como: frustração, complexo de inferioridade e introversão; poderá se tornar agressiva e/ou até mesmo deprimida, e que isso poderá causar problemas no rendimento escolar e no convívio familiar.
E por tudo isso, é muito importante que essa criança tenha um lar, onde ela sinta-se protegida, resguardada dos seus medos e incertezas, até que possa através do apoio moral e segurança encontrados dentro de casa, começar a caminhar com suas próprias pernas, e desbravar esse mundo tão desconhecido e diferente que lhe foi apresentado.

É preciso lembrar que esta criança está deixando para trás uma pequena estrutura social já formada, através do pequeno círculo de amiguinhos; da escola que frequenta talvez desde a mais remota idade; da segurança de estar próximo a pessoas com rostos e hábitos familiares, que falam e compreendem o seu idioma.

Por mais duro que possa parecer, infelizmente algumas dessas mães nem sempre terão a oportunidade de reencontrar seus filhos como planejaram ou no tempo em que desejaram. Às vezes, é tudo como um "tiro no escuro".  Mudam para um país no qual têm dificuldades de adaptação; o acesso ao dinheiro não é tão fácil quanto o que se esperava.; ou as condições sociais em que vivem, também não foi a planejada. São custeadas financeiramente por seus maridos ou companheiros, e que esse por vezes mudam de comportamento ou mostram o seu real caráter, encurtando ou até mesmo cortando a contribuição financeira que lhes davam.
Algumas esbarrarão na resistência desse companheiro (que não é o pai biológico),  no momento em que o tema "trazer meus filhos" for abordado.
Em outros casos, a resistência parte da própria criança, que por vezes, como uma forma de "represália" ou revolta pela partida ou "abandono" de sua mãe, se nega a querer ir morar com ela, dando-lhe uma espécie de castigo, fazendo-a dessa forma padecer ainda mais.
Algumas vezes esses comportamentos e atitudes das crianças são influenciados por um ex-marido não satisfeito com a separação, e que envolve a criança numa briga de adultos, convencendo-a a ficar contra sua mãe, usando-a como fator de intriga para dificultar a vida ou atingir sua ex-parceira de alguma forma, chegando mesmo a  impedir essa criança de deixar o país.


Infelizmente, como já mencionei, muitas dessas mulheres são dependentes financeiramente dos seus parceiros e não têm uma renda própria. Há casos de irem ao extremo e de serem abandonadas, após alguns poucos anos de convívio, depois do término de uma relação que começou com bastante harmonia, mas que infelizmente por conta de diferenças de opiniões, por incompatibilidade de gênios, ou algum outro fator agravante chegou ao fim.
E por conta dessa separação repentina e inesperada, muitas dessas mães não estão preparadas para enfrentar uma vida sozinha em um país novo, nessa nova cultura, que exige delas muita coragem e força para viver essa delicada situação. Claro, algumas se superarão com muita bravura e buscarão trabalho no intuito de enviar dinheiro para ajudar na manutenção do seu filho, que espera pelo seu retorno.
Posso até mesmo acreditar que a ausência dos filhos seja usada como "arma" para atingirem suas mulheres, ou suas ex-parceiras, que estão muitas vezes sensíveis e fragilizadas por estarem longe de casa e sozinhas.

Por isso, não me canso de mencionar uma vez ou outra, a importância de se aprender o idioma do país para o qual se está mudando. A independência financeira é excelente, mas o domínio do idioma é riquíssimo, e liberta!


Um ponto que precisa ser abordado, é que na hora de deixar o país, é importante que as mães não esqueçam que essa criança não é simplesmente uma "bagagem de mão", e achem que elas poderão viajar sem o menor dos problemas. Mas ao contrário, elas devem se informar com muito cuidado sobre os documentos necessários para viajarem com seu filho legalmente.

Os filhos menores de pais separados, são um caso que exigem mais atenção, pois essas crianças não poderão deixar o país sem a autorização de um dos genitores.23w

Para alguns esclarecimentos de dúvidas, aqui tem um link do Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA, que aborda este assunto. Para facilitar, eu mesma verifiquei e o tema abordado será encontrado a partir da página 99, Seção III - Da Autorização para Viajar - que vai do Artigo 83 ao 85

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm#texto


Há poucos dias, vivenciei o caso de uma adolescente filha de brasileira com alemão, que estava no Brasil de férias com a sua mãe, e na ocasião de deixar o País, não teve permissão mesmo estando acompanhada de sua genitora, por não ter passaporte brasileiro à mao, e por  não estar acompanhada também do seu pai que na ocasião se encontrava na Alemanha.
Por conta da burocracia, tiveram que permanecer duas semanas em território brasileiro, e por não terem sido aceitos os documentos enviados através de fax às autoridades brasileiras responsáveis (só teriam aceitação se fossem enviados os originais via correios).
Enfim, após muitas idas e vindas, duas passagens perdidas, remarcadas e pagas do próprio bolso, as duas conseguiram viajar de volta, e o resultado é que a adolescente de certa forma traumatizada, não pretende nem tão cedo viajar ao Brasil. Mas, cada caso é um caso.

Esse caso, fez-me lembrar uma das viagens que fiz sozinha com a Corina, minha filha. Saímos da Alemanha (ela com passaporte alemão,) apenas nós duas, não apresentei nenhum outro documento, a pesar de estar também trazendo comigo o seu passaporte brasileiro. Na entrada em Recife, não me foi solicitado o seu documento de cidadã brasileira, ou seja, apresentei outra vez o seu passaporte alemão. No retorno das férias à Alemanha, tivemos um pequeno transtorno, pois a "simpática" senhora do controle da Polícia Federal, me questionou porque eu estava apresentando um passaporte alemão da nossa filha. Falei com tranquilidade que, não me fora cobrado nenhum outro documento brasileiro dela na entrada, e por isso achei natural apresentar aquele documento, pois afinal de contas nossa filha era uma cidadã alemã e que eu não via nenhum problema em apresentar aquele documento. Muito mais "simpática" ainda, aquela senhora me exigiu um documento brasileiro da Corina, e me questionou se "o senhor" que nos acompanhava era o pai dela. (Meu marido que havia viajado em seguida para nos encontrar, estava conosco).
Para resumir, a "simpática" senhora me falou que SEMPRE que eu viajasse com minha filha desacompanhada do meu marido para o Brasil, teria que apresentar o passaporte brasileiro dela, tanto na entrada, quanto na saída, acompanhado da autorização dele junto com os documentos.

Eu entendo que uma autorização para a viagem desacompanhada seria de fato necessária (não o fiz realmente por falta de cuidado, mas não que tenha querido me desfazer das leis brasileiras), mas eu não entendí a exigência da apresentação do documento brasileiro, já que ela tem as duas nacionalidades, e eu optei por apresentar a estrangeira.

Vale salientar, que nas atuais emissões de passaportes infantís, há um formulário que deve ser preenchido onde os pais, de comum acordo, autorizam a criança a viajar apenas na companhia de um dos genitores. Essa autorização vem constando no passaporte da criança. Nós emitimos o da nossa filha com essa autorização para evitarmos perca de tempo com a burocracia caso haja uma necessidade urgente de viagem. E na página 4 do seu passaporte, abaixo dos nossos nomes consta o seguinte texto :

" O titular está autorizado pelo(s) genitor(es), pelo prazo deste documento, a viajar com um deles, indistintamente.
(RES. CNJ 131/11.  ART.13)."


Particularmente eu sou uma pessoa pacata, odeio confrontos ou discussões mas não abro mão se eu achar que tenho razão, então eu não conseguia entender: se minha filha era uma cidadã alemã, ela tinha o direito de entrar no Brasil, como o pai dela, com o seu passaporte alemão! Ou não?

Naquele dia eu me dei por satisfeita, mas na viagem seguinte, eu não perdí a oportunidade de perguntar ao simpático (de fato!) policial federal, que controlava a saída na nossa última viagem, se aquela exigência da sua colega de trabalho procedia. Ele deu um sorrisinho, e me disse que na verdade era quase como uma questão de "orgulho nacional", pois já que nossa filha também era brasileira, seria importante apresentar o seu passaporte brasileiro.

Mas esse é um assunto de muita complexidade, e cada caso deve e necessita ser visto isoladamente, pois o menor dos detalhes pode fazer muita diferença e gerar discussões desnecessárias.


Aqui poderemos tirar algumas dúvidas sobre emissão de passaportes no exterior 

http://frankfurt.itamaraty.gov.br/pt-br/


Quando assunto é viagem com menor de idade, é muito importante não esquecer das questões burocráticas e que na hora do embarque, caso os documentos da criança não estejam em ordem, não irá adiantar nem escândalos, nem sambar de um pé só, pois os profissionais que trabalham no setor de embarque dos aeroportos são, na sua maioria, muito exigentes. Pode até mesmo haver um caso ou outro, em que se foi feita vista grossa, o que não seria bom, nem profissional pois afinal de contas, o que se preza é pela segurança da criança.

Claro, há os casos de mães que trouxeram seus filhos e tiveram "um final feliz", e  também muitas mulheres (e eu tenho a sorte de conhecer algumas delas), não passaram por nenhum tipo problema, e que ao contrário de muitos outros casos, têm companheiros maravilhosos, que tomaram os filhos de suas companheiras como seus, sem distinção de tratamento, mesmo depois de terem filhos consanguíneos.
E há também os filhos que vieram viver com suas mães, mas por alguma razão não se adaptaram e tiveram que regressar ao Brasil, o que com certeza foi de alguma forma traumático para ambos os lados.

Não posso deixar de mencionar, que nem sempre a "culpa" é das mães, pois em algumas situacoes os filhos em sí são uma "barreira" para que as mães os levem para viver com elas. Não é fácil para uma cabecinha tão jovem ainda, entender porque sua mãe o "abandonou" ou entender o que se passa em seus pensamentos, por ter que deixar seus amiguinhos que falam seu idioma, ou sair de um ambiente que lhe é familiar e que lhe trás segurança,  para entrar em um mundo novo, onde tudo é diferente e distante do que era até pouco a sua realidade.



Mas cada mãe tem suas razoes de ter deixado os seus filhos para trás, mesmo que temporariamente. Muitas têm a sorte de em pouco tempo estar reunidas à eles novamente, porém outras nem tanto.
E nem que eu tente, e eu posso até mesmo usar os termos mais lindos e mais doces que houverem, mesmo assim, jamais conseguirei transformar em palavras esses sentimentos que só essas mães carregam dentro de sí. E por mais que se façam de forte, uma saudade infinita e uma dor cortante insistem em habitar em seus corações.

É tudo muito triste e muito doloroso, para ambos os lados. Tanto para os filhos que esperam ansiosos pelo retorno de suas mãezinhas, para leva-los e nunca mais os abandonarem, quanto para as mães. E enquanto esse dia não chega,  seguem consolados por um presente ou outro enviados com muito amor e carinho, e muitas vezes, "encharcados por lagrimas secas", derramadas por aquela mãe que preferia se fazer pequena como uma formiguinha e entrar naquele pacote. Mas que por diversas razoes, dentre elas a financeira, ainda não conseguiram ir de encontro aos seus pequenos.

O que eu sei, é que nenhum de nós, por mais que nos achemos no direito, devemos ou podemos apontar o dedo para essas mães; nenhum de nós é perfeito o suficiente para emitir julgamento. Ter um filho, poder estar com ele, envolve-lo em um abraço e sentir o seu cheirinho é um privilégio, e por isso, simplesmente por essa razão, é que essas pobres mães já foram "punidas", dispensando assim outros julgamentos.
 "Atirar pedras" não é o melhor a se fazer. É sabido que toda decisão tem uma consequência seja ela positiva ou negativa, mas fechar os olhos e se por no lugar de cada uma delas é uma forma de sentir a sua dor, sentir a sua tristeza, e no final se compadecer.

Mães não choram, elas sufocam a sua angústia no seu peito para seguirem vivendo...elas se vão um pouco a cada lágrima derramada.



Esse post, eu dedico à todas as mães, que tiveram que se afastar temporariamente de seus filhos queridos e amados. E em especial a uma mãe linda, que tem um sorriso lindo, mas trás no coração e na alma a tristeza da separação por ter deixado temporariamente uma "parte de sí" no Brasil.
Como ela mesma me disse uma vez: "Eu tenho uma vida no Brasil!"


À elas, deixo aqui um abraço forte, com muito amor e o desejo do fundo da alma, que um reencontro esteja próximo.



Um Conto Corrido

07:30 - O Telefone -Alô! -Mãaaae!! Esqueci a mochila de esporte na parada do ônibus! -Corre por favor antes que alguém pegue! -E onde vc est...