Freitag, 4. April 2014

Você nao está só! Casa das Mulheres - Frauenhaus

Todos que moramos na Alemanha há algum tempo, sabemos que esse é um país que cumpre com sua obrigação constitucional perante os seus cidadãos (sejam eles naturalizados ou não!) oferecendo excelentes serviços de transportes, educação e na área da saúde.

Sabemos também, que aqui, são oferecidos serviços de assistência social de muito boa qualidade (há os que nunca estarão satisfeitos com nada!), para as pessoas que necessitam, ou que estão em dificuldades financeiras. São inúmeros os órgãos e entidades públicas ou privadas que prestam serviço de apoio em diversos seguimentos, como refeições, distribuição de calcados e roupas (se não totalmente grátis, mas por um valor irrisório...)

Mas há um serviço que eu considero exemplar, e que é oferecido especialmente às mulheres que sofrem agressão física ou moral por seus companheiros(as) e/ou parentes,  mas que nem todas infelizmente tomam conhecimento. Esse serviço é oferecido por uma instituição chamada Casa das Mulheres - Frauenhaus.

Lá, a mulher que sofre qualquer tipo de agressão (seja física ou moral) por seu companheiro(a) ou parentes (sejam oficialmente  casadas ou não!), é acolhida por mulheres especializadas no que diz respeito à proteção, e essa ajuda não se restringe apenas à mulher, mas é estendida aos seus filhos também.

Na Casa das Mulheres, a mulher é atendida apenas por mulheres, não precisando se envergonhar pela situação que passou ou esteja passando. Elas são extremamente competentes, e essa organização  é formada por profissionais que darão suporte não apenas na érea assistencial técnica (moradia, vestuário, alimentação), como também assistência psicológica, jurídica e burocrática. E tudo isso é feito gratuitamente (verifique na sua região) , dia e noite e de forma sigilosa!

O endereço da Casa das Mulheres não é revelado ao público, o que garante maior segurança!

Algumas vezes, essa organização é solicitada para intervir em casos extremos, como por exemplo, em um caso em que a mulher esteja tendo dificuldade em sair da residência, por causa do seu companheiro, que a ameaça ou coisas do tipo, então, elas agem em conjunto com a polícia, para resguardar o direito daquela mulher abandonar a residência com segurança.

É muito importante salientar, que para que se tenha esse tipo de ajuda, é preciso estar segura de que realmente a sua situação é extrema, e que você não consegue solucionar o seu problema sem que haja agressão moral, se escalando para uma agressão física. Além do que, a própria vítima tem que estar de acordo. Nada será forcado!

Às vezes,  o problema entre o casal pode ser resolvido com o diálogo, mas às vezes também, a mulher não sabe por onde começar, e para isso, existe um serviço que trabalha em conjunto com a Casa das Mulheres, que dá toda uma orientação, com um diálogo aberto, onde a vítima dos maus tratos explica a sua situação, e recebe a devida orientação, de como agir no seu caso (temos de considerar que nem todos os casos são para fuga ou abandono do lar!). Esse grupo é chamado Mulheres ajudam Mulheres - Frauen helfen Frauen  (fhf).

Eu tive a sorte de participar de uma reunião, onde a vítima sofria de menosprezo por parte do seu esposo (nesse caso, o casal é estrangeiro!). Era ameaçada de receber tapas no rosto; levou empurrões; não tinha direito de ter a chave da caixa do correio, não tendo assim, acesso às correspondências que diziam respeito ao casal; trabalhava, mas não tinha acesso ao cartão do banco para sacar seu próprio dinheiro; sua auto estima já não existia, devido às humilhações verbais que sofria . Era uma espécie de "prisioneira", tendo em vista que não se sentia segura o suficiente para confrontar o seu companheiro e falar-lhe dos seus direitos como esposa e mulher. Só tinha "obrigações" com os serviços da casa e de tomar conta do filho deles.

Ela estava com os nervos à flor da pele, pensando em uma fuga para outro país com a criança, ou simplesmente sair de casa e abandonar o marido. Mas como, se não tinha sua situação financeira definida? Estava tão desesperada, que não tinha noção do problema que poderia trazer para sí. Estava enfraquecida como ser humano e como mulher, devido às constantes humilhações as quais se submetia, por sentir-se só, por estar de fato só, mas apenas no âmbito de não ter parentes que vivessem próximo à ela. Mas ela não sabia até então, que não estava sozinha. Não sabia que morava em um país que lhe dava direitos como mulher, como ser humano e como cidadã.

No escritório das Mulheres ajudam Mulheres - Frauen helfen Frauen (há um número de telefone para se agendar um horário, e esse número é diferente, variando de lugar para lugar, mas na internet é muito fácil de se adquirir), o caso dessa vítima seria avaliado, e dependendo do grau do problema, a Casa das Mulhes seria acionada.  
Fomos atendidas por uma senhora muito educada, tranquila, e que era preparada para lidar com o assunto, e depois que a vítima expôs seu problema em detalhes, e mencionou quais as suas intenções, ela foi tranquilizada para não tomar decisões precipitadas, e lhe foi informado quais os seus direitos como mulher, cidadã e como gente. Lhe foram dadas alternativas para pensar, que poderiam mudar aquele quadro que ela vivia. Saiu de lá com esperanças. Sua auto estima foi fortalecida.

Após alguns meses, tudo se transformou na sua vida. Preferí não saber dos detalhes da razão daquela mudança, mas pelo que pude observar, o diálogo foi a base daquela significante transformação de comportamento. Ela está feliz, pois tem livre acesso ao seu salário como faxineira; tem o seu próprio carrinho usado para locomover-se para o trabalho, e o mais interessante de todos, está com sua auto estima lá nas nuvens!

Mas há casos, infelizmente, onde a vítima tem de abandonar o que fora um dia o seu lar, para literalmente fugir, se esconder, e no último caso, até mesmo mudar de cidade, para poder seguir vivendo. Tudo isso, com o suporte administrativo e jurídico da Casa das Mulheres - Freuenhaus.

Infelizmente, há situações, em que todo um trabalho é posto por água à baixo, quando as vítimas, depois de passarem por toda a assistência e dedicação dessas mulheres que doam o seu tempo em favor de ajudá-las, abandonam tudo e voltam a morar com seus "algozes". Triste, mas verdade.

O trabalho dessas voluntárias, deve ser ovacionado e respeitado. Pois como mencionei antes, elas dedicam-se espontaneamente, em prol de mulheres e das suas crianças que sofrem nas mãos de pessoas sem escrúpulos. Elas não recebem dinheiro por isso. Sua recompensa, é ver que depois de tanto esforço e luta, mulheres recuperaram suas auto estimas e voltaram a sorrir!

E não esqueca: Você não está só!


* Atenção:

1. É importante saber que existem inúmeras Casa das Mulheres - Frauenhaus espalhadas por toda a Alemanha, e por isso são inúmeros endereços na internet, e os números de telefone também. Caso precise, haverá com certeza uma perto de você.

2. Essas instituições são mantidas muitas vezes por patrocinadores ou doadores, mas nem todas têm essa sorte, e mantem-se financeiramente através de seus próprios esforços. 

Donnerstag, 3. April 2014

Optei por ser feliz!

Uwe era um homem alto, de voz grave e olhos azuis-acinzentados, divorciado, sem filhos e que não falava outro idioma que não fosse o alemão. Era dez anos mais velho que eu.

 Até então, eu não o havia dito que tinha um namorado e que as coisas entre nós não estavam bem, e que ainda estava hospedada na casa dele. Mas eu não queria mentir, pois achava injusto e que ele não merecia isso. Foi então que resolví falar a verdade pra ele logo que chegasse em casa, através de uma mensagem que enviaria para o celular dele, pois era a única forma de contato que nós tínhamos. Depois disso, ele era quem decidiria se iria querer continuar me vendo, ou se não manteria mais contato comigo. Era um risco que eu teria de correr, pois mentira sempre foi de encontro aos meus princípios, principalmente se o assunto dizia respeito à relação a dois. 

No domingo à noite, quando cheguei em casa, sentí um pouco de remorso por ter me envolvido com uma outra pessoa, estando ainda hospedada na casa do Albert, mesmo que não tivéssemos nada um com o outro.
 Ele estava sentado ao computador, como era seu costume. Aproximei-me, e me dirigí à ele, e o que saiu da minha boca veio mais como uma súplica... falei então: “Albert, por favor, se você ainda tem algum sentimento por mim, lute. Você pode me perder a qualquer momento.” Albert, sem dar muita importância ao que eu queria dizer com aquilo, sorriu e falou: “Você já chegou em casa?” E completou: ”Como foi o passeio?”

Completamente decepcionada com a reação dele, decidí que não tinha mais volta. Sua decisão estava tomada.

Após o jantar, o Albert foi para o quarto assistir televisão. Sentei-me ao computador e escreví uma longa mensagem para o Uwe, em português, falando para ele toda a verdade. Que não estava na casa de nenhuma amiga, mas sim do meu atual ex-namorado, e que nossa relação havia terminado, e que desde o momento em que o ví, algo havia mudado em mim. E que por ele ser a princípio, um homem bom e respeitador, não seria justo de minha parte começar algo já com uma mentira. Preferiria correr o risco de não vê-lo mais, a ter que conviver com um peso na consciência.
Essa mensagem, que no final deu em duas páginas de papel ofício cheias, eu enviei para a minha amiga na Suíça, para que por gentileza a traduzisse para mim, e me enviasse por e-mail, o que ela muito amavelmente fez.

 No final de semana seguinte, peguei meu celular, e fui sentar-me na cozinha.  Essa longa mensagem, eu enviei para o Uwe em um domingo, através de um SMS, e passei o tempo de duas horas para concluí-la(já que meu telefone celular era bem antigo e não ajudava em nada!). No final, eu acrescentei, que se ele havia sentido que havia a possibilidade de existir algo entre nós, ele saberia qual atitude tomar. E que, caso ele não me respondesse ou ficasse chateado com o meu comportamento, eu também compreenderia.
A resposta dele poderia ser bem amarga, mas eu estava preparada para tudo.

Na segunda-feira pela manhã, quando estava a caminho do galpão onde o Albert tinha montada a sua empresa, e onde eu o ajudava, tocou meu telefone. Era Uwe. Ele havia recebido minha mensagem e queria se encontrar comigo. Ele falou que entendia o que eu estava passando mas preferia conversar pessoalmente. Fiquei tão radiante de felicidade. Era tudo que eu queria, uma chance para esclarecer as coisas com ele e não causar uma má impressão. Não queria que ele se sentisse usado por mim, apenas queria que se algo entre nós tivesse de começar, que fosse de forma sincera e honesta. Assim sou eu.
Nos encontramos no dia seguinte, na estação de trem, bem no centro da cidade de Dortmund. Foi com muita alegria e ansiedade que nós nos revimos. Eu não podia conter um pouco de nervosismo, mas Uwe mais uma vez me passou confianca e tranquilidade. A comunicacão entre nós passou a fluir de forma natural, devido a paciência e carinho dele, mas claro, com a ajuda imprescindível do dicionário.
Nossos encontros eram secretos, e isso me deixava em uma situação muito delicada, pois eu não podia falar para o Albert o que estava acontecendo. Com certeza ele não compreenderia, e eu não me sentia nada bem em viver daquela forma.
Uwe saia da sua cidade que ficava à quase uma hora de distância da cidade onde eu vivia, para me encontrar, sempre depois de largar do trabalho, e esse esforço fazia sentido pra ele. Só mostrava o quanto estava interessado em me conhecer mais e melhor.
Ele sempre foi direto e objetivo durante todos dias que nós nos encontramos. Repetiu que não era rico, mas poderia pagar um curso de alemão para que eu pudesse estudar e lentamente me adaptar à vida na Alemanha. Falou que não gostaria que eu retornasse ao Brasil (já que eu estava apenas como turista no País, sem visto de permanência definitivo, e com passagem de volta já marcada), mas queria que eu ficasse para que tentássemos começar um relacionamento. Tratava-me com carinho e respeito, era evidente sua sinceridade para comigo, e eu me sentia cada vez mais segura ao seu lado.
 Nós sempre nos encontrávamos à tarde, em um restaurante latino que nós "descobrimos". Era um lugar discreto e muito agradável.
Em um desses encontros, uma das brasileiras que estavam presentes quando nos conhecemos, apareceu por lá, e Uwe pediu para que ela me traduzisse, pois não queria que restassem dúvidas sobre suas intenções e sua proposta, para que eu me mudasse para a sua cidade para morar com ele, até que chegasse o dia de retornar ao Brasil. Até lá, nós poderíamos nos conhecer melhor e talvez até tomar uma decisão sobre o nosso futuro. 
Um dia de tarde, Uwe me apanhou em Dortmund e me levou à sua cidade, para que eu pudesse conhecer onde ele vivia. Conhecer seu apartamento, que era muito agradável e arrumado. Ele queria me mostrar que não estava mentindo sobre as suas intenções.
 
Eu viví dias de muita tensão, pois havia prometido que iria pensar na sua proposta. Eu o queria bem, mas por estar ainda na casa do Albert, a pesar de não termos mais nenhum relacionamento, me sentia mal com a situação, que era bastante delicada.
 
Após uma semana, eu me encontrei com Uwe e então lhe falei que havia decidido que iria mudar-me para a casa dele, que nos daria uma chance, e combinamos então que ele me apanharia na casa da brasileira que havia conhecido quando cheguei na Alemanha, e que morava a cinquenta metros da casa do Albert. Não poderia permitir que ele passasse por um vexame, pois o Albert não ficou muito satisfeito quando comuniquei que sairia de sua casa.
 
Comuniquei minha decisão ao Albert, que vinha tentando de uma hora para outra reconquistar-me. Mas eu estava irredutível na minha escolha. A pesar de não ter tido coragem para falar que havia conhecido outra pessoa, e que era para a casa dele que iria mudar-me. Mas à essa altura do campeonato, os detalhes pouco imprtavam. Ao invés disso, falei que iria passar o restante do tempo legal que me era direito na casa da Maria Clara que havia morava na pequena cidade onde estivera. Não mentí de todo, apenas omití alguns fatos que julguei sem tanta importância, pelo menos para Albert. Havia tomado uma decisão que considerava madura. Não iria perder a oportunidade e ao mesmo tempo iria dar uma chance para mim mesma e para Uwe de nos conhecermos melhor.
Mas não foi fácil convencer o Albert, que passou a me ofender com indiretas, e no dia da minha saída do apartamento, ele que havia prometido não voltar mais cedo do trabalho para evitar despedidas e mais agressões desnecessárias de ambas as partes, não cumpriu com sua palavra, aparecendo de surpresa e tornando as coisas ainda mais difíceis para mim.
Passou a mencionar as passagens pagas e gastos que havia tido comigo, no período em que moramos juntos. Mas eu, com muita dignidade, deixei a casa de Albert de cabeca erguida. Partí rumo a minha felicidade, para encontrar-me com Uwe que me aguardava perto dali.
 
A partir dali, um grande desafio me esperava...


 

Um Conto Corrido

07:30 - O Telefone -Alô! -Mãaaae!! Esqueci a mochila de esporte na parada do ônibus! -Corre por favor antes que alguém pegue! -E onde vc est...