Donnerstag, 3. April 2014

Optei por ser feliz!

Uwe era um homem alto, de voz grave e olhos azuis-acinzentados, divorciado, sem filhos e que não falava outro idioma que não fosse o alemão. Era dez anos mais velho que eu.

 Até então, eu não o havia dito que tinha um namorado e que as coisas entre nós não estavam bem, e que ainda estava hospedada na casa dele. Mas eu não queria mentir, pois achava injusto e que ele não merecia isso. Foi então que resolví falar a verdade pra ele logo que chegasse em casa, através de uma mensagem que enviaria para o celular dele, pois era a única forma de contato que nós tínhamos. Depois disso, ele era quem decidiria se iria querer continuar me vendo, ou se não manteria mais contato comigo. Era um risco que eu teria de correr, pois mentira sempre foi de encontro aos meus princípios, principalmente se o assunto dizia respeito à relação a dois. 

No domingo à noite, quando cheguei em casa, sentí um pouco de remorso por ter me envolvido com uma outra pessoa, estando ainda hospedada na casa do Albert, mesmo que não tivéssemos nada um com o outro.
 Ele estava sentado ao computador, como era seu costume. Aproximei-me, e me dirigí à ele, e o que saiu da minha boca veio mais como uma súplica... falei então: “Albert, por favor, se você ainda tem algum sentimento por mim, lute. Você pode me perder a qualquer momento.” Albert, sem dar muita importância ao que eu queria dizer com aquilo, sorriu e falou: “Você já chegou em casa?” E completou: ”Como foi o passeio?”

Completamente decepcionada com a reação dele, decidí que não tinha mais volta. Sua decisão estava tomada.

Após o jantar, o Albert foi para o quarto assistir televisão. Sentei-me ao computador e escreví uma longa mensagem para o Uwe, em português, falando para ele toda a verdade. Que não estava na casa de nenhuma amiga, mas sim do meu atual ex-namorado, e que nossa relação havia terminado, e que desde o momento em que o ví, algo havia mudado em mim. E que por ele ser a princípio, um homem bom e respeitador, não seria justo de minha parte começar algo já com uma mentira. Preferiria correr o risco de não vê-lo mais, a ter que conviver com um peso na consciência.
Essa mensagem, que no final deu em duas páginas de papel ofício cheias, eu enviei para a minha amiga na Suíça, para que por gentileza a traduzisse para mim, e me enviasse por e-mail, o que ela muito amavelmente fez.

 No final de semana seguinte, peguei meu celular, e fui sentar-me na cozinha.  Essa longa mensagem, eu enviei para o Uwe em um domingo, através de um SMS, e passei o tempo de duas horas para concluí-la(já que meu telefone celular era bem antigo e não ajudava em nada!). No final, eu acrescentei, que se ele havia sentido que havia a possibilidade de existir algo entre nós, ele saberia qual atitude tomar. E que, caso ele não me respondesse ou ficasse chateado com o meu comportamento, eu também compreenderia.
A resposta dele poderia ser bem amarga, mas eu estava preparada para tudo.

Na segunda-feira pela manhã, quando estava a caminho do galpão onde o Albert tinha montada a sua empresa, e onde eu o ajudava, tocou meu telefone. Era Uwe. Ele havia recebido minha mensagem e queria se encontrar comigo. Ele falou que entendia o que eu estava passando mas preferia conversar pessoalmente. Fiquei tão radiante de felicidade. Era tudo que eu queria, uma chance para esclarecer as coisas com ele e não causar uma má impressão. Não queria que ele se sentisse usado por mim, apenas queria que se algo entre nós tivesse de começar, que fosse de forma sincera e honesta. Assim sou eu.
Nos encontramos no dia seguinte, na estação de trem, bem no centro da cidade de Dortmund. Foi com muita alegria e ansiedade que nós nos revimos. Eu não podia conter um pouco de nervosismo, mas Uwe mais uma vez me passou confianca e tranquilidade. A comunicacão entre nós passou a fluir de forma natural, devido a paciência e carinho dele, mas claro, com a ajuda imprescindível do dicionário.
Nossos encontros eram secretos, e isso me deixava em uma situação muito delicada, pois eu não podia falar para o Albert o que estava acontecendo. Com certeza ele não compreenderia, e eu não me sentia nada bem em viver daquela forma.
Uwe saia da sua cidade que ficava à quase uma hora de distância da cidade onde eu vivia, para me encontrar, sempre depois de largar do trabalho, e esse esforço fazia sentido pra ele. Só mostrava o quanto estava interessado em me conhecer mais e melhor.
Ele sempre foi direto e objetivo durante todos dias que nós nos encontramos. Repetiu que não era rico, mas poderia pagar um curso de alemão para que eu pudesse estudar e lentamente me adaptar à vida na Alemanha. Falou que não gostaria que eu retornasse ao Brasil (já que eu estava apenas como turista no País, sem visto de permanência definitivo, e com passagem de volta já marcada), mas queria que eu ficasse para que tentássemos começar um relacionamento. Tratava-me com carinho e respeito, era evidente sua sinceridade para comigo, e eu me sentia cada vez mais segura ao seu lado.
 Nós sempre nos encontrávamos à tarde, em um restaurante latino que nós "descobrimos". Era um lugar discreto e muito agradável.
Em um desses encontros, uma das brasileiras que estavam presentes quando nos conhecemos, apareceu por lá, e Uwe pediu para que ela me traduzisse, pois não queria que restassem dúvidas sobre suas intenções e sua proposta, para que eu me mudasse para a sua cidade para morar com ele, até que chegasse o dia de retornar ao Brasil. Até lá, nós poderíamos nos conhecer melhor e talvez até tomar uma decisão sobre o nosso futuro. 
Um dia de tarde, Uwe me apanhou em Dortmund e me levou à sua cidade, para que eu pudesse conhecer onde ele vivia. Conhecer seu apartamento, que era muito agradável e arrumado. Ele queria me mostrar que não estava mentindo sobre as suas intenções.
 
Eu viví dias de muita tensão, pois havia prometido que iria pensar na sua proposta. Eu o queria bem, mas por estar ainda na casa do Albert, a pesar de não termos mais nenhum relacionamento, me sentia mal com a situação, que era bastante delicada.
 
Após uma semana, eu me encontrei com Uwe e então lhe falei que havia decidido que iria mudar-me para a casa dele, que nos daria uma chance, e combinamos então que ele me apanharia na casa da brasileira que havia conhecido quando cheguei na Alemanha, e que morava a cinquenta metros da casa do Albert. Não poderia permitir que ele passasse por um vexame, pois o Albert não ficou muito satisfeito quando comuniquei que sairia de sua casa.
 
Comuniquei minha decisão ao Albert, que vinha tentando de uma hora para outra reconquistar-me. Mas eu estava irredutível na minha escolha. A pesar de não ter tido coragem para falar que havia conhecido outra pessoa, e que era para a casa dele que iria mudar-me. Mas à essa altura do campeonato, os detalhes pouco imprtavam. Ao invés disso, falei que iria passar o restante do tempo legal que me era direito na casa da Maria Clara que havia morava na pequena cidade onde estivera. Não mentí de todo, apenas omití alguns fatos que julguei sem tanta importância, pelo menos para Albert. Havia tomado uma decisão que considerava madura. Não iria perder a oportunidade e ao mesmo tempo iria dar uma chance para mim mesma e para Uwe de nos conhecermos melhor.
Mas não foi fácil convencer o Albert, que passou a me ofender com indiretas, e no dia da minha saída do apartamento, ele que havia prometido não voltar mais cedo do trabalho para evitar despedidas e mais agressões desnecessárias de ambas as partes, não cumpriu com sua palavra, aparecendo de surpresa e tornando as coisas ainda mais difíceis para mim.
Passou a mencionar as passagens pagas e gastos que havia tido comigo, no período em que moramos juntos. Mas eu, com muita dignidade, deixei a casa de Albert de cabeca erguida. Partí rumo a minha felicidade, para encontrar-me com Uwe que me aguardava perto dali.
 
A partir dali, um grande desafio me esperava...


 

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