Mittwoch, 3. Dezember 2014

Solidao que Mata


Há algum tempo, algo vem me perturbando a mente e me tirando a tranquilidade, e acredito que não só a mim, como também aos muitos brasileiros que moram no exterior. Isso a que me refiro, são as constantes reportagens e notícias de brasileiros ou brasileiras que vêm tirando as suas próprias vidas por motivos de depressão, angústia ou outro mal que são causados aparentemente pela solidão. Em poucos meses, são muitos os casos noticiados.

Nós que moramos muitos anos "fora de casa", sabemos o quanto é difícil a fase de adaptação e de aceitação por ambas as partes (tanto por parte do estrangeiro em aceitar novas normas, regras e mudanças para inserir-se à nova vida, e em uma outra cultura; como também por serem (ou não!) "aceitos" nesse novo lar pelos habitantes locais.
Os recém-chegados, na sua maioria, acreditam que por estarem vivendo em um país "novo", serão bem aceitos e  recebidos de braços abertos , que todas as portas estarão sempre abertas, e isso não é verdade, essa não é realidade. Claro, pode haver as exceções, mas isso não é um fato corriqueiro e não acontece todos os dias.

Quando sentimos na pele que nem tudo é como as mil maravilhas, e que nem tudo é fácil, que teremos muito a "desbravar", e que nem sempre seremos bem vistos ou aceitos no país que escolhemos para viver, e que teremos dificuldades para encontrar trabalho, e que nem sempre teremos à nossa disposição alguém para nos comunicarmos, pessoas que talvez venham amenizar um pouco essa solidão, então é aí que a realidade aparecerá nua e crua. A dificuldade já começa daí, em não falar o idioma, e isso afetará principalmente as pessoas que se negam em viver a vida do país, e se fecham em "guetos" ou "grupos" que só falam o idioma pátrio, ou seja, não têm interesse em se desenvolver no aprendizado da língua do país onde mora.
Mas essa dificuldade, pode piorar, se as pessoas moram em lugares distantes e afastados, não terão facilidade de comunicação nem de locomoção, para ter mais contato com pessoas que possam ajudar nessa adaptação. Pois quanto mais afastado e interiorano for o lugar em que esse imigrante for morar, mais as pessoas serão reclusas e "desconfiadas".

Lembro que há alguns anos, meu marido e eu conhecemos uma moça jovem muito simpática, que vinha de Salvador, mas que já havia vivido na Suíça e lá havia tido uma experiência conjugal que não tinha dado certo. Ela namorava um senhor também muito simpático, e aproximadamente uns quinze anos mais velho. Eles nos convidaram para visitá-los em sua cidadezinha, e não demoramos muito tempo para encontrar a casa deles, pois o lugar era muito pequeno e afastado do "centro", e além do mais só havia umas cinco casas naquela área, e eram bem afastadas uma das outras.
Após a conversa que se sucedeu entre nós, não demorei muito para concluir que aquela moça não demoraria muito naquele lugar. Ela tinha muitos planos, era muito ativa, gostava de balada e falava muito empolgada das aventuras e dos locais que havia frequentado com seus amigos, todos brasileiros, no tempo em que morou na Suíça . Ela não tinha carteira de habilitação, e o lugar onde moravam, só havia pastos e vacas a perder de vistas. Para ir até o mercado mais próximo, necessitava ir de bicicleta. Ela passava os dias sozinha, em uma grande casa, enquanto seu namorado passava o dia fora de casa trabalhando. Ela fazia muitos planos, e na sua cabeça de moça jovem, tinha devaneios e ilusões, mas todos iam de encontro com a sua realidade.

Nós perdemos o contato uma com a outra, mas espero profundamente que tenha realizado os seus sonhos de ser feliz.

Isso é fato. Para se tomar uma decisão dessas, é necessário sabedoria e maturidade, caso contrário, pode ser um jogo bastante perigoso, e a situação fugir ao controle.

Não quero dizer com isso, que seja ruim morar em um lugar pequeno e afastado da "civilização".
Mas morar em cidade grande também não quer dizer que seja muito diferente, pois as pessoas no seu dia-a-dia têm suas ocupações, e mesmo os nossos conterrâneos, que já estão habituados à vida do país, nem sempre terão aquela disponibilidade que acreditamos que teriam.
Eu mesma, logo no início da minha vida no estrangeiro, também já passei por uma experiência, pois uma conhecida, ao ser indagada por mim, porque não me visitava, ela me disse: _Você tem que me convidar. Não posso chegar assim, batendo na sua porta como se estivéssemos no Brasil!"
Hoje eu sei que infelizmente essa é a realidade de quem mora fora, não é como estar "em casa". Não adianta, isso é uma ilusão, ou uma triste realidade, como queiram classificar.

Eu desejo sim, que em algum lugar, alguém não dê importância às burocracias e formalidades criados pelo homem, e não se importe se um amigo chegar batendo à sua porta de repente, e não faça essa pessoa sentir-se inconveniente, pois talvez ela só esteja querendo um ouvido ou um ombro amigo, para não enlouquecer, para continuar a viver. E que ao retornar para a sua casa, não tenha mais um vazio no peito, e não cometa um ato de loucura em um momento de desespero, perdido na solidão entre quatro paredes.

Mas eu sigo me perguntando, e talvez este seja um questionamento não apenas meu, mas de muitos de nós: O que pode levar essas pessoas a viverem esse momento de desespero?
O que leva essas pessoas a tirarem suas próprias vidas? Seria fraqueza, no sentido de não terem suporte para lutarem e superarem  essas dificuldades de comunicação, essa vida de solidão? Fraqueza, não por ser um covarde, mas fraco por não ter mais esperanças de que dias melhores podem vir?
Será que a distância de casa doeu tanto?
Ou será talvez, que também como muitos de nós, não avaliou e não "pesou" as consequências dessa mudança de país?
Sei que são respostas difíceis de serem obtidas, mas infelizmente há pessoas que não são fortes o suficiente para se darem uma chance de lutar, de vencer, de correr atrás. Saberem que moram em um país que não é igual ao seu de origem, mas buscarem forças e reagirem de alguma forma. Ou simplesmente, "jogar a toalha" e voltar "pra casa". Isso me entristece profundamente.

Mas por outro lado, eu tive a oportunidade de conhecer mulheres, lindas e fortes, que passaram por momentos de solidão, e situações denigrentes e desesperadoras. Mas foram fortes o suficiente para se manterem firmes e darem à volta por cima, como guerreiras que não desistem da luta! Um exemplo a ser seguido!
Por uma questão de ética eu não vou revelar os seus nomes, mas à elas, toda a minha admiração e carinho!

Preciso apenas deixar claro, que tenho um sentimento vivo dentro de mim, por essas pessoas que infelizmente tiraram suas vidas de uma maneira tão triste, trágica e dolorosa, para nós, que ficamos e lemos essas matérias nos jornais e nas redes sociais, é lamentável.
Essas notícias vêm sempre acompanhadas de muita especulação, pois a verdadeira razão, nem sempre vem à tona, deixando assim, margens para muitos questionamentos.

Sei que é grande e incessante, a dor e a tristeza dos familiares e amigos dessas pessoas, que partem dessa forma triste, longe dos seus queridos. À eles deixo aqui os meus sentimentos, solidariedade e o meu respeito.

Conheci uma moça,  que veio morar na Alemanha, e por se sentir sozinha e na monotonia, achou que engravidar seria uma saída, pois teria um filho para cuidar e ocuparia assim o seu tempo. Mas ela não investiu em aprender a língua antes disso, não se empenhou em vivenciar o país. Então, ela não se adaptou ao lugar e não aprendeu o idioma mesmo morando aqui já havia alguns anos. O que acontece é que esse tipo de comportamento acaba criando algum tipo de rejeição da pessoa ao país. Pois ela irá "culpa-lo" por seu "fracasso", pela sua falta de "sucesso" na vida. É preciso ter bastante cuidado com esse aspecto da adaptação, pois ela será a chave que irá abrir, ou conforme seja, fechar as portas do mundo aqui fora.

Para você, que tem a pretensão de dar um passo rumo ao desconhecido, que é ir morar no exterior, é importante levar em questão fatos como a solidão, e a distância de casa. Pois nem todos os dias serão de festa.

Pouco se pensa no lado duro e difícil que é a conquista de um espaço novo, com tantos obstáculos a serem superados, como a aceitação; ou como a comunicação, que nem sempre flui de maneira fácil; o contato com pessoas novas, que nem sempre estarão abertas a diálogos espontâneos, como estamos acostumados com as pessoas em nossos países de origem. Não pensamos no frio constante, que incomoda, dói, deprime e mata, de depressão e de tristeza, quem não for forte o suficiente para saber se defrontar com situações como essas.

Sei apenas, que quando mudamos para outro país, não sabemos ainda o que de fato nos aguarda. Não sabemos de fato, se iremos conseguir superar a saudade, a tristeza, a angústia por estarmos longe dos parentes queridos, dos amigos verdadeiros. Enfim, nós não pensamos em nada disso antes de imigrarmos. Acredito, que pensamos apenas em coisas boas, positivas, muitas conquistas pessoais e profissionais, muita alegria e muita festa. Mas o mundo real nos aguarda cheio de surpresas...




Um Conto Corrido

07:30 - O Telefone -Alô! -Mãaaae!! Esqueci a mochila de esporte na parada do ônibus! -Corre por favor antes que alguém pegue! -E onde vc est...