Olá! Hoje quero falar de um tema que é muito delicado, não é nada novo, mas que infelizmente ganhou a notoriedade da mídia por conta dos novos ataques terroristas em Paris.
A convivência entre povos de diferentes nacionalidades.
Em
um país onde vivem tantos estrangeiros, não há como passar
despercebida a influência cultural desses povos que dividem o mesmo
solo. Seja na culinária, na religião, língua falada e escrita, ou
na sociedade de uma forma geral.
É lógico, que para
povos com culturas e comportamentos bem diferentes conviverem juntos,
é necessário que haja sobretudo respeito e tolerância. É
simplesmente inevitável, em um planeta habitado por diferentes
povos, não haver conflitos de opiniões. Basta considerarmos que, há
países mais ou países menos conservadores, e que quando esses
povos se encontram e têm que conviver juntos, há fatores que irão
influenciar de uma forma ou de outra na harmonia dessa convivência.
Só para citar por exemplo, fatores como religião, política, comportamento, e
liberdade de expressão, podem ser um barril de pólvora se esses
temas forem mal interpretados.
No que se diz respeito à
religião de um povo, haverá sempre questionamentos e críticas,
pois a intolerância infelizmente falará sempre mais alto. Isso,
claro, não é uma generalização, pois haverá também sempre as
exceções, que irão balancear uma convivência mais harmoniosa
entre povos com diferentes cultos religiosos.
Na América do Sul, há
também diferentes países que falam quase todos o mesmo idioma, mas
que cultuam diferentes hábitos e religiões. Só para dar um
exemplo, no Brasil 68% da população pratica o catolicismo, mas há
também praticantes da religião Protestante, Hinduísmo, Budismo,
Candomblé e muitas outros variados credos, cultos ou seitas. Povos
com diferentes pensamentos, mas que são capazes de respeitarem-se uns
aos outros em sua maioria das vezes.
Na Europa, vivem milhões de
muçulmanos, judeus, budistas e seguidores de muitas outras religiões, além do
catolicismo e protestantismo, vindo dos mais variados países. Alguns
procuram integrar-se à cultura ocidental, outros, fazem dos seus
bairros e seus lares uma extensão de seus países, onde ali
prevalecem (na maioria das vezes) as leis que regem suas religiões.
Os muçulmanos
são os que mais se sobressaem diante de muitos outros, por serem
considerados exóticos e rigorosos em sua forma de vestir e se
comportar. Isso não seria nada demais, se esses povos não quisessem
impor a sua cultura e forma de viver como sendo a correta,
criticando o estilo de vida e cultura dos países ocidentais como
sendo incorretos, de mal exemplo e libertinos. Com esse pré-julgamento
muitos saem de seus países para o ocidente, e não aceitam por exemplo, que as
mulheres sejam emancipadas e livres para decidirem sobre suas vidas.
Nas grandes capitais,
existem ruas inteiras onde seus moradores são turcos ou de países
de origem árabe, onde se pode ver um comércio diversificado, com
placas de propaganda em turco, ou idiomas de origem árabe, sendo
impossível para quem não tem conhecimento da língua saber o que
está escrito. Há também consultórios médicos com placas em idioma
estrangeiro e em alemão, para facilitar um pouco a identificação.
Algumas das famílias mais conservadoras (na maioria impera-se o
poder patriarcal), não permitem o casamento dos seus filhos com
pessoas de outra nacionalidade ou credo senão os seus. Os casamentos
“arranjados ” são bem mais comuns entre eles do que se imagina,
e quem não respeita as regras impostas pelos pais ou membros
masculinos da família, podem sofrer rigorosas punições. Mas nem
sempre as “leis” que regem essas famílias são respeitadas,
pois há cada vez mais jovens, rapazes e mocas, nascidos em países
do ocidente, como na Alemanha por exemplo, e criados em regimes rigorosos,
que se rebelam contra seus familiares e não aceitam tais “regras”
de matrimônio, ou querem apenas serem aceitos em sua opção sexual (visto pelos muçulmanos como crime de morte!). Muitos insistem em manter relacionamentos com pessoas
que não sejam de sua mesma religião ou origem, o que nem sempre
termina bem, pois, já foram registrados muitos casos de parentes
(pais e/ou irmãos) que “em nome da honra”, levaram a punição um
pouco além da conta, e esses jovens “rebeldes” tiveram que pagar
com suas vidas o preço de sua liberdade. Devido à esses e outros
casos de conservadorismo extremo dentro do islamismo, é que
infelizmente há uma certa discriminação sim dessa população, não só
na Alemanha como em outros países europeus.
Para muitos, é
inaceitável que essas pessoas vivam na Europa, em países extremamente
modernos e avançados, onde temas como divórcio, casamento, aborto e
homossexualismo já deixaram há muito tempo de ser tabu na
sociedade, nas escolas ou dentro da família. Assistir na televisão
ou ler nos jornais que mulheres são assassinadas por seus esposos
“em nome da honra”, por não quererem mais continuarem casadas,
sendo tratadas de forma desumana apenas por serem mulheres, e porque
pediram o divórcio, derramando, segundo eles, “a vergonha” sobre
as famílias envolvidas é algo que parece quase irreal e bastante
assustador. Mas não são apenas os maridos ou os pais que punem
essas mulheres, há pouco houve o caso de uma jovem ter sido
sequestrada do apartamento onde vivia com seu namorado alemão e,
muitas semanas depois encontrada morta, jogada em um descampado, como
se fosse nada, como se com isso a sua família tivesse se livrado de
uma “coisa” que os incomodava diante da sociedade em que vivem. E
as investigações apontaram para suas irmãs, como as culpadas pela
tragédia.
Um outro fator que leva os políticos e a sociedade à grandes debates e discussões, são os Extremistas Islamistas, que estão envolvidos com o terrorismo que assola o mundo. Na Alemanha, houve o caso em que membros deste Grupo Radical planejaram ataques terroristas no verão de 2006, nas cidades de Dortmund e em Koblenz. Na ocasião, foram encontras duas malas de viagem em trens regionais das respectivas cidades contendo explosivos. Os especialistas informaram que, devido à uma falha na construção da bomba não ocorreu a detonação, o que salvou com certeza muitas vidas.
Outro caso ocorreu em
2007, quando três terroristas (dois alemães convertidos ao
islamismo e um turco) envolvidos com terrorismo, foram descobertos em
uma casa de férias alugada, na região de Sauerland. Na residência,
a polícia encontrou enorme quantidade de produtos químicos e
explosivos, que os especialistas afirmaram serem de poder de
destruição muito maior que os ataques terroristas ocorridos nos
trens de Madri em 2004, e o de Londres em 2005. Ou seja, há muito que a Alemanha está na mira dos terroristas. Tivemos sorte entao? O que dizer?
Nos dois casos, os
suspeitos foram capturados e condenados à prisão.
Seguramente, há as muitas exceções, onde as famílias menos conservadoras, não importando de
qual religião são adeptos, não têm problema de manterem contato
com pessoas de outros credos e nacionalidades, vivendo em harmonia,
não sendo tão pressionados pela sociedade no que diz respeito à integração e convivência social pacífica. O tema Integração, tem
sido bastante discutido nesses últimos tempos na Alemanha. Nunca se
discutiu tanto e veementemente sobre o que é integrar-se socialmente
a um país, como se está sendo discutido nos dias de hoje. O tema
tornou-se discussão política constante, e quase não sai da pauta
dos muitos programas de entrevista na televisão alemã.
Acredito que nós
estrangeiros, não precisamos perder a nossa identidade e passarmos
a viver a identidade do país que escolhemos para viver. Muitas
vezes, nós nos integramos tanto, que nem percebemos que agimos de
acordo com o que a vida no país exige de nós, e isso acontece
inconsciente e naturalmente. Não necessitamos (e nem poderíamos)
esquecer as nossas origens por estarmos convivendo com pessoas de
origens diferentes, em um país que de certa forma, querendo nós ou
não, irá nos envolver em sua cultura. Mas por outro lado, não
podemos querer impor, ou “enfiar goela” a baixo a nossa cultura
de forma forçosa, às pessoas ao nosso redor e do nosso convívio
diário. Penso, que devemos e temos o compromisso de nos darmos uma
oportunidade e sermos flexíveis para facilitar a nossa introdução à
esse “novo mundo” que estamos por descobrir. Lutar contra isso,
é pouco inteligente, afinal de contas, houve uma razão para se
querer mudar de país, e isso implica mudanças pessoais e
comportamentais também.
Quando se chega em um
país que se escolhe para viver, falando aos quatro cantos que as
coisas do “meu país” são as melhores; que tudo no “meu país”
é melhor; fazendo comparações constantemente, então o que resta é
se fazer algumas perguntas: O que se está fazendo em um lugar que
não é agradável? Porque abandonar tudo e ir para um país onde
nada é satisfatório? Porque insistir por anos a fio em morar e
viver se contrariando?
A decisão de se morar
em um país onde não nos sentiremos felizes, é algo muito sério e
deve ser pensado com bastante responsabilidade, antes que o tempo
passe, antes que seja tarde demais para um recomeço. Pois o tempo
passa e o que se perdeu ficou para trás e não retornará mais.