Aqui, voce
conhecerá a minha história, a história de Alessandra, uma jovem de 32 anos,
classe média, inteligente, boa aparência, solteira e relativamente bem
sucedida, que abandonou a família, os amigos e um bom emprego depois que
conheceu um alemão chamado Albert através da internet. Eles se comunicavam em
espanhol, pois ela não falava alemão, e ele por já ter sido casado com uma
cubana dominava bem o idioma. Após alguns meses de contatos telefônicos e após
nos conhecermos pessoalmente e convivermos por duas semanas juntos em Recife, aceitei a proposta dele em mudar pra Alemanha e casar-mos, optando por deixar minha vida para trás, e viver com ele em
seu país de origem. Mas antes de viajar, estudei alemão por três meses, em um
curso particular, que eu mesma custeei.
Mas o que me esperava, nao foi o que eu havia imaginado, uma vida
tranquila até que aprendesse o idioma e pudesse me integrar à cultura e aos
costumes do país. A minha vida com o meu namorado foi rodeada de mentiras,
discussões e incertezas. Viajei duas vezes para a Alemanha: a
primeira vez para nos conhecermos melhor e assim vivermos juntos todos os nossos planos de felicidade; a segunda, para
insistir em algo que já comecou dando errado, e com um final certo.
Albert viajou ao Recife por duas semanas, para conhecer pessoalmente
a mulher que ele dizia ser de sua vida, a mulher com quem fazia tantos planos
futuros. No período em que ficamos juntos, ele havia alugado um apartamento
pequeno direto na praia de Boa Viagem. Era muito simples e não tinha o menor
conforto, como acontece com a maioria dos apartamentos alugados para temporada. Ele insistiu
muito para que eu ficasse hospedada com ele naquele período, e alegava
que era uma oportunidade que tínha-mos de nos conhecermos mais de perto. Nao serei hipócrita,
senti-me bastante desconfortável com aquela situacão, já que ia de encontro
aos meus costumes e princípios, pois venho de uma família de certa forma
conservadora, e para ter que ficar por duas semanas com ele no apartamento,
seria inevitavelmente constrangedor, mas queria romper com aquela barreira dentro
de mim mesma e apenas ser feliz com o meu amado no verão, e então aceitei a proposta
dele.
* No Brasil, a pesar de nos considerarmos tão liberais, ainda
estamos muito longe de sermos ou nos enquadrarmos ao comportamento europeu. O
Brasil ainda é muito conservador no que diz respeito à liberdade de expressão
em determinados aspectos. Na europa, os jovens não são vistos pelos seus pais
como atrevidos por levarem suas namoradas ou namorados para dormirem em suas
casas, ao contrário, esse comportamento é visto com muita naturalidade.
Naquela ocasião, havia tirado férias do trabalho apenas para poder
viver aquele momento que julgava tão importante em minha vida, e dedicar-me em
conhecer mais meu namorado, a pesar de não estar completamente desligada de minha
família.
O momento da vinda do Albert ao Brasil, foi para mim um momento de
muita expectativa e de difíceis mas determinantes escolhas na minha vida
pessoal, pois o meu irmão mais velho encontrava-se muito doente e debilitado,
pois era portador do vírus HIV (em estágio avancado!) que o levaria à morte em
seis meses. E foi justamente nesse período que descobrí o amor que nutria por
ele, e infelizmente era tão tarde para expressar por palavras, mas o fiz em
gestos. Cuidei dele com todo o meu coracao. Mas mesmo assim, com tanto estresse dividi o tempo
com meu namorado e aos cuidados que dedicava ao meu irmão, pois sabia dentro de mím, que ele logo partiria. Eu tomava o café da manhã com Albert, e combinava
com ele que nos encontraríamos à tarde na praia, e assim transcorreram-se alguns
dias. Enquanto eu estava ausente, Albert passava o dia na praia, pois era muito
expontâneo e comunicativo, além do que, falava perfeitamente espanhol, por isso
não tinha muitas dificuldades em manter contato com as pessoas que frequentavam
aquele local, que era exatamente um dos pontos onde os turistas se concentravam. Então foi
ali, que ele conheceu um outro alemão que já era bastante conhecido na área.
Através dele, conheceu também algumas prostitutas, ou garotas de programa, como
preferiam ser chamadas, com as quais passava o tempo na praia conversando,
enquanto eu não retornava.
No pouco período de tempo em que Albert passou comigo em Boa Viagem,
eu tive a oportunidade de conviver e de certa forma fazer parte de um mundo ao
qual não pertencia. Um mundo que só tinha nocão da existência através dos meios
de comunicacão. O vai-e-vem das muitas prostitutas que circulavam por lá.
Muitas delas ainda muito jovens, que não tinham sequer alcancado a maioridade. Algumas
meninas de rua que se prostituiam e se drogavam à luz do dia. Conhecí e tive
muita proximidade com uma garota de programa (ela insistia em não ser chamada
de prostituta), e o fato de ela vender o seu corpo, não me incomodava, pois não
conhecí apenas a profissional que frequentava a praia, conhecí o ser humano
que existia por trás dela. Margarida* era mãe de quatro filhos, e nenhuma
gestacão havia sido planejada, cada um de um pai, e não vivia com nenhum deles.
A filha mais nova tinha pouco mais de um ano e era filha de um estrangeiro com
o qual havia saido algumas vezes, e sempre que ele retornava ao seu “reduto
de férias" eles se encontravam sem o menor problema. Era uma mulher jovem,
mas experiente na vida.
Margarida*, sempre que chegava à praia era muito alegre e
descontraída, e conhecia todos por alí, e todos a conheciam, claro. Havia
passado algum tempo na Alemanha e por isso falava um pouco alemão. Ela, por conhecer
todas as meninas que “trabalhavam” por alí, conversava comigo e me falava das
experiências de vida de cada uma delas. Era triste, e o pior: era real!
Apesar de eu estar com Albert em uma área onde era normal ser
frequentado por prostitutas, cafetões e cafetinas, nunca fui molestada ou
maltratada de forma alguma. Ao contrário, fui respeitada em minhas atitudes e
comportamento, pois também respeitava as atitudes e comportamentos das pessoas
dali. Mas mesmo não tendo passado por nenhuma situacão constrangedora, em meu
íntimo me sentia sim, como um peixe-fora-d’agua. Era muita informacão de uma só vez,
era muita “realidade” para ser digerida, entendida e trabalhada em minha cabeca
de uma só vez. Já o Albert, se sentia confortável e não mostrava o menor
interesse em mudar seus hábitos ou de deixar de frequentar aquele local.
Em uma das vezes que lá estávamos, era um domingo de sol, e não pude
deixar de observar o movimento das mocas e rapazes que ali chegavam, normalmente
a partir do meio dia, que era quando comecava o dia para aquelas pessoas, depois
de descansarem das “festinhas” e “farras” da noite anterior. Um pouco mais
afastadas, mas mesmo assim bem direto no foco, sentavam-se duas mulheres. Uma
delas era já uma senhora de mais ou menos quarenta e cinco ou cinqüenta anos, e ao
seu lado uma adolescente, aparentando uns dezesseis ou dezesete anos de idade,
bem bonita por sinal. As duas observavam
o movimento das pessoas dali, e a senhora mais velha, que depois confirmei que se tratava da mãe da adolescente, não fazia a menor questão em ser
discreta, quando sinalizava para a filha os “gringos” que estavam na praia
naquele dia, e que não eram adolescentes ou jovenzinhos, mas sim senhores de
no mínimo cinqüenta anos. A princípio, pensei que a mãe estaria interessada em
encontrar um namorado para si, que fosse rico (era assim que idealizavam um
namorado estrangeiro), morassem em uma bela casa, a levasem para jantar
regularmente, lhe comprassem roupas, sapatos, jóias...e por fim, a convidasse
para ir embora com ele para seu país de origem, e assim vivessem felizes para
sempre. Uma espécie de prícipe dos tempos modernos, que as livrassem dos
problemas sociais do dia-a-dia, da miséria, da moradia precária, do desemprego,
e tantos outros fatores que servem como desculpa para buscar uma solucão na
beira da praia, como uma espécie de válvula de escape na resolucão das questões
de cunho financeiro. Tudo isso seria perfeito, se se tratasse apenas de uma
história dos livros de contos de fadas, mas a realidade às vezes tem um preco
muito alto!
segue...
curiosa para ler o restante... =)
AntwortenLöschenentao nao perca os próximos capítulos
AntwortenLöschenhihihi ;)