O dia transcorreu como sempre, cheio de espectativas para mim, pois
aquele alvoroco de mocas e rapazes me deixava de ouvidos e olhos mais abertos
que o normal, e não queria perder nenhum lance, nenhum zum-zum-zum, nenhuma
cena daquele dia, que prometia. Pois foi o que aconteceu, através da Margarida*
fiquei sabendo que a mãe não queria um namorado, mas estava tentando arranjar
um casamento “vantajoso” para a sua filha, e se a jovem se desse bem, ela
claro, também sairia ganhando, e sua filha estaria com o futuro “garantido”. O
que eu observei naquela situacão, é que a mãe não se importava se o tal
“pretendente” de sua filha era muito mais velho que ela, ou se estava
acompanhado ou não, pois nem o Albert fugiu aos olhares insinuantes das duas
mulheres. Um universo muito distinto do meu. Fiquei um pouco perturbada em
saber daquilo. Em meu mundo, os pais incentivam os filhos a estudar pra terem
uma vida digna. Mas o que vi, era uma mae incentivando sua filha a
prostituir-se, o que foge completamente aos padrões normais, ao verdadeiro
sentido da palavra educar. Como na ocasião, ainda hoje procuro analisar aquela
situacão do ponto de vista social, e não emitindo julgamentos ou menosprezando
aqueles dois seres humanos, que eram apenas vítimas de sua própria ignorância.
Aquela imagem das duas à beira da praia nunca me saiu da cabeca...
Entre tantas “vivências” e curiosidades daquele local, uma que muito
me chamou a atencão, era que havia uma prostituta bastante jovem, uma moca
lindíssima, da qual a Margarida* era uma espécie de “protetora”, de “conselheira”.
Ela era ainda menor de idade, e como a maioria delas, também não tinha a
escolaridade completa, ou em muitas vezes, até mesmo nenhum grau de
escolaridade. Essa jovem, tinha quatorze anos e era a filha mais velha de uma
família pobre de cinco filhos, todos moravam em um barraco, com um só vão, em
uma comunidade pobre em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes. A mãe dela contava
com a ajuda da Margarida* para proteger a sua filha nas ruas e da violência diária.
Ela passava muitos dias fora de casa, e retornava levando algum dinheiro para
ajudar a sua mãe na criacão dos seus irmãos mais novos. Dinheiro esse ganho com
a prostituicão. A jovem, era de uma beleza impressionante, que mesmo as marcas
do sofrimento, do sol diário na praia, da pobreza e humildade estampados em seu rosto e no
corpo, não poderiam ofuscar.
Alí, muitas das garotas de programa ou prostitutas, não tinham
sequer alcancado a maioridade, mas já tinham alcancado muitas milhas em seus
vôos internacionais. Já haviam cruzado o oceano Atlântico tantas vezes se podia
imaginar, com destino à Europa.
A linda jovem, a qual darei o nome fictício de “Joana”, havia
chegado recentemente da Itália, onde havia passado um bom período. Trazia
consigo um álbum de fotografias. Como estava na companhia da Margarida*, tive a
oportunidade de ter esse álbum em minhas mãos, e pude ver com meus próprios
olhos do que se tratavam aquelas fotos. A moca havia sido fotografada em roupas
íntimas, em poses sensualíssimas, quase eróticas, eram roupas íntimas de muito
bom gosto, em vários modelos e cores diferentes, e que não escondiam as
intencões por trás do fotógrafo.
“Joana” aparecia sentada em uma poutrona luxuosíssima, em poses que
pareciam copiadas de modelos de revistas direcionadas ao público masculino. As
fotos foram feitas em um terraco superior, em uma casa que dava a entender que
era uma mansão, e que pela riqueza da decoracão e do bom gosto nos móveis,
notáva-se que o seu proprietário tinha bastante dinheiro. Em uma das fotos,
aparecia um senhor de cabelos brancos, gordo, com uma barriga bastante
saliente, em trajes íntimos e aparentando no mínimo sessenta anos. Idade, para ser avô daquela adolescente. No álbum, havia muitas fotos em que dava
a entender que a jovem parecia ter conhecido muitos lugares diferentes, vestindo
roupas de fina aparência, e mostrava-se encantada, ou talvez sentía-se
realizada de alguma forma.
Havia passado três meses na companhia daquele senhor, e sendo
tratada da forma que só ela mesma sabe. Para as suas viagens, a sua mãe havia
assinado documentos de autorizacão, considerando que pela sua idade, não
poderia decidir por sí só. Dentro de sua ignorância, ao assinar aquele
documento, sua mãe, consciente ou inconscientemente dava a liberdade quase que
diretamente para que sua filha se prostituísse no exterior.
“Joana” mostrava o seu álbum às suas colegas e transparecia estar
muito orgulhosa, como se fosse um troféu conquistado. Mas, além das fotos, o
que mais essa jovem trouxera em sua viagem de volta à realidade? Pois
encontrava-se outra vez à beira da praia, onde trabalhava como prostituta,
garota de programa ou seja lá qual for o nome que queira-se dar ao ato de
vender o corpo.
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